O mercado de trabalho começou o ano aprofundando suas perdas. Somente em fevereiro foram fechados 104,6 mil postos formais de emprego, o maior número para o mês em 25 anos, totalizando 204,9 mil vagas perdidas nos primeiros dois meses do ano e 1,7 milhão em 12 meses, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego.
Outra dimensão do problema foi dada pela Pesquisa Mensal de Emprego (PME), do IBGE, nas seis maiores regiões metropolitanas, que constatou que a taxa de desemprego atingiu 8,2% em fevereiro, maior índice para o mês desde 2009 e acima dos 7,6% de janeiro, além da persistente redução da renda, que tem impacto decisivo no primeiro aumento da desigualdade desde a virada do século. A situação é pior na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, que abrange 3,5 mil municípios e apurou em janeiro uma taxa de desocupação de 9,5%, acima dos 6,8% de igual período do ano anterior. A Pnad Contínua vai substituir a PME a partir de agora.
A deterioração pode ser confirmada nos grandes números e nos detalhes. Do 1,5 milhão de postos fechados em 2015, segundo o Caged, a maior parte estava na indústria (608,8 mil) e na construção civil (416,9 mil). Os serviços fecharam 276,1 mil vagas e o comércio teve perda menor, de 218,7 mil postos.
Depois de terem mostrado extraordinária resistência à crise econômica em 2015, o comércio e os serviços revelam agora ter sentido o golpe provocado pela significativa redução do consumo das famílias. O comércio fechou 55,5 mil vagas em fevereiro, cerca da metade dos postos perdidos no mês de acordo com o Caged, totalizando 125,3 mil fechados no bimestre, ou 57% do total registrado em todo o ano passado. As maiores perdas ocorreram no Sudeste, por causa do enfraquecimento da indústria, e no Nordeste. Se o ritmo de fechamento de pouco mais de 100 mil postos de trabalho por mês for mantido, o ano vai contabilizar 1,2 milhão de vagas a menos, não muito distante do registrado no ano passado.
Os dados do IBGE também são preocupantes. A população desocupada já somava 9,6 milhões de pessoas no trimestre de novembro a janeiro, segundo a Pnad Contínua, e aumentou 42,3%, o equivalente a mais 2,9 milhões de pessoas, na comparação com igual trimestre de 2015. Já a população ocupada, calculada em 91,7 milhões de pessoas, diminuiu 1,1% ou 1 milhão de pessoas frente a igual trimestre de 2015. As pesquisas revelaram ainda a redução de 5,9% dos trabalhadores sem carteira, mais acentuada do que os 3,6% daqueles que têm carteira assinada; e ainda o consequente aumento de 6,1% das pessoas que trabalham por conta própria.
Além disso, o rendimento médio real recebido caiu 2,4% em relação ao mesmo trimestre do ano passado; e a massa de rendimento real encolheu 3,1% na mesma base de comparação. Os trabalhadores com ensino médio completo ou escolaridade superior, o segmento considerado mais instruído, é o que registrou maior perda de renda do trabalho nesse período, de 4,8%. A queda da renda do trabalho cria um círculo vicioso pois reduz a demanda no comércio e nos serviços e, a partir do segundo semestre do ano passado causou o primeiro aumento da desigualdade desde a virada deste século. Depois de recuar paulatinamente desde 2001, apesar de alguns anos de turbulência como 2003, o índice de Gini, que mede a desigualdade, perdeu em 2015 o que levou todo esse tempo para melhorar e um pouco mais. Não fossem as transferências do governo, a desigualdade teria aumentado mais. As perdas sociais também podem ser aferidas pela redução do PIB per capita, que ocorre desde 2014. Naquele ano recuou 0,8%; e perdeu mais 4,6% no ano passado. A previsão é de novo encolhimento neste ano e, provavelmente, em 2017.
Outro indicador perverso é o elevado desemprego entre os mais jovens. Nas seis principais regiões metropolitanas do país um em cada cinco jovens está desempregado. Pela primeira vez, desde 2009, a taxa de desemprego entre os trabalhadores de 18 a 24 anos atingiu 20,8%. Mas a pior sinalização é certamente a perspectiva de que a deterioração do mercado de trabalho vai se acentuar e a taxa de desemprego vai chegar a dois dígitos ainda neste ano, na esteira das previsões negativas para a economia e da disseminação da crise. Há quem preveja melhoria apenas para 2018.
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