Isabel Fleck, Rubens Valente, Ranier Bragon – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - No primeiro dia de debate do relatório que recomenda a abertura de processo de impeachment contra Dilma Rousseff, nesta sexta-feira (8), 62% dos 115 deputados federais que se inscreveram para falar optaram pela lista favorável ao afastamento da presidente da República.
O índice não é suficiente para autorizar a abertura do processo –são necessários os votos de pelo menos 342 dos 513 deputados em plenário, ou seja, 66,7%–, mas mostra uma situação difícil para Dilma, embora hoje seja praticamente impossível antecipar um resultado.
Na lista de apoio a Dilma (45 nomes, mas com dois deputados que também se inscreveram na lista contrária), o PT era o partido com mais integrantes, 22.
Partidos que negociam nos bastidores ministérios, cargos e verbas com o Palácio do Planalto quase não registraram deputados para defender a petista. O PP não aparece na lista. O PSD tem apenas um deputado. O PR também registrou apenas um nome –o líder da bancada, Maurício Quintella Lessa (AL), o que representa um sinal positivo para o governo.
O líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), também se inscreveu para defender Dilma. O partido do vice presidente Michel Temer rompeu com o Planalto, mas Picciani faz parte da ala minoritária que mantém fidelidade ao governo.
Nanicos a quem foram oferecidos cargos e verbas também se inscreveram contra o impeachment, como o PHS e o PTN.
No grupo dos 72 deputados que integram a lista contrária a Dilma (dois deles, Bebeto, do PSB da Bahia, e Aliel Machado, da Rede do Paraná, também colocaram seus nomes na lista favorável a ela), a oposição trouxe o maior número de nomes –16 do PSDB, 14 do DEM–, além do PMDB, com 8.
Os partidos de centro que negociam com Dilma também inscreveram nomes, mas em geral de deputados que há muito tempo são favoráveis ao impeachment –3 do PR, 4 do PSD e 4 do PP.
O segundo mandato de Dilma Rousseff
Pão e queijo
O debate na comissão especial do impeachment da Câmara começou às 16h25 desta sexta e deve entrar na madrugada deste sábado (9).
Cada um dos 115 inscritos tem de 10 a 15 minutos para falar. Apesar de a comissão ter apenas 65 deputados titulares, a fala foi aberta a qualquer deputado.
O presidente da comissão, Rogério Rosso (PSD-DF), disse que iria providenciar "pão, manteiga e queijo" a todos dos parlamentares. A fala resultou em piadas da oposição, que ironiza o PT e movimentos sindicais com a afirmação de que os protestos contra o impeachment são engrossados mediante oferta de pão com mortadela.
Rosso convidou a defesa de Dilma a se pronunciar ao fim da discussão sobre o relatório –e antes da votação na comissão espeical. Como a discussão irá terminar de madrugada, é possível que algum representante da Advocacia-Geral da União fale na sessão de segunda-feira. O convite foi feito após uma reclamação de deputados governistas, que pediram novo espaço para a defesa.
O parecer de Jovair Arantes diz haver indícios gravíssimos de que Dilma cometeu crime de responsabilidade na execução orçamentária. Há na comissão maioria para aprovação desse parecer, cuja votação será feita nesta segunda-feira (11). A votação final no plenário pode ocorrer no dia 17, um domingo.
"A denúncia apresentada contra a presidente mostrou-se apenas a ponta de um iceberg monstruoso, gigantesco e para não dizer vergonhoso dos porões da política brasileira. (...) Dizer que não é crime é querer brincar com a honra dos brasileiros", disse Evair de Melo (PV-ES), o primeiro deputado a falar.
As falas foram intercaladas entre contrários e favoráveis ao relatório. Jandira Feghali (PC do B-RJ), foi uma das defensoras de Dilma. "É mentira, não há crime de responsabilidade", disse, destacando que, se houver impeachment, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), será o vice "de fato" e que um governo Michel Temer será "ilegítimo".
Cunha foi presença constante nas falas dos governistas. "Alguém acredita que melhorará o combate à corrupção com Eduardo Cunha" como o próximo na linha sucessória, questionou Henrique Fontana (PT-RS), para quem o impeachment é uma "tentativa [do PMDB] de chegar ao governo do país sem votos, com um acordão de elites". Segundo Ivan Valente (PSOL-SP), Cunha à frente do processo representa uma "vergonha" nacional e internacional.
O deputado Benito Gama (PTB-BA), favorável ao impeachment, disse que o país passa hoje por uma "degradação em todos os sentidos, da sociedade, do governo". "Estamos sendo levados para o caos, não somente nacional, mas internacional."
Já o petista Arlindo Chinaglia (SP), ex-presidente da Câmara, criticou aqueles que temam desgaste da imagem por ser contra o impeachment.
"Eu não consigo conceber um parlamentar com medo."
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