• Depoimentos de ex-executivos de empresa reforçam investigações sobre o esquema, por tratarem do método de lavagem de propinas por meio da legislação eleitoral
O barômetro da crise política oscilou fortemente contra os interesses de Dilma e do lulopetismo desde quinta-feira, com a divulgação, pela “Folha de S.Paulo”, de trechos da delação premiada de representantes da empreiteira Andrade Gutierrez na Lava-Jato.
E ainda houve o parecer do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo, contra a nomeação de Lula para o Ministério. Janot entende ter havido de fato tentativa de retirar o ex-presidente do alcance da força-tarefa de Curitiba, nas investigações da Lava-Jato, sob o juiz Sérgio Moro.
O ex-presidente e o ex-executivo da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo e Flávio Barra, entre outros da empresa, confirmaram o que era esperado: a Andrade, só ultrapassada em tamanho pela Odebrecht no ramo das grandes obras públicas, de fato converteu dinheiro de propina obtido na execução de grandes projetos (Belo Monte, Angra 3 e Comperj, este da Petrobras) em doações “legais” às campanhas de Dilma, em 2010 e 2014. PT e PMDB foram as legendas receptadoras dos recursos da empreiteira.
Esta lavagem de dinheiro usando a Justiça eleitoral já havia sido mencionada, nas investigações da Lava-Jato, pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC. Ao incluir esta esperteza delitiva na contribuição premiada, os ex-dirigentes da empreiteira devem estar seguros de que conseguirão provar o que contaram.
Cifras elevadas trafegaram nesse universo. Só na hidrelétrica de Belo Monte, o consórcio construtor — Andrade, Odebrecht e Camargo Corrêa — conseguiu uma propina de R$ 150 milhões, o equivalente a 1% do valor do projeto. Claro que por meio do superfaturamento na obra. O que significa que as centenas de milhões drenados para PT, PMDB e PP, principalmente, neste esquema e nos outros, foram retiradas dos cofres públicos, a fonte de recursos desses empreendimentos.
Nas delações, desfilaram nomes conhecidos: o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o ex-ministro Edison Lobão (PMDB), o primeiro amigo João Carlos Bumlai e os ex-ministros Antonio Palocci e Erenice Guerra, substituta de Dilma na Casa Civil. Os desmentidos foram os previstos.
No caso da presidente, em mais um dos comícios que tem organizado no Planalto, ela optou por esquecer o conteúdo das revelações e criticar os “vazamentos direcionados”, determinando ao ministro da Justiça, Eugênio Aragão, que investigue como a imprensa soube dos depoimentos, referendados pelo ministro Teori Zavascki. Não deixou, mais uma vez, de entoar o mantra do “golpe”.
Na montagem do quebra-cabeça desta aliança entre grandes empreiteiras e o lulopetismo, para drenar recursos públicos de projetos gigantescos tocados por estatais, a Andrade Gutierrez é peça importante, como a Odebrecht.
Não só pelo tamanho, mas pelo fato de se dispor a ajudar a desvendar a ponta do esquema em que está a lavagem de dinheiro de propina usando-se a legislação eleitoral. O branqueamento de dinheiro sujo na doação “legal a candidatos” deve ter induzido seus idealizadores a imaginar que haviam cometido um crime perfeito.
A Lava-Jato precisa aprofundar estas investigações, porque se supõe que haja cifras ainda mais elevadas escamoteadas por esta manobra.
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