O otimismo deve continuar distante, mas há sinais de melhora das expectativas, um ingrediente essencial para o sucesso de qualquer plano de recuperação da economia. Dois sinais positivos, embora ainda fracos, foram detectados em sondagens da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Executivos da indústria estão mais confiantes em relação aos negócios e consumidores baixam suas previsões de inflação, embora ainda esperem uma forte alta de preços durante mais um ano.
No mercado, economistas do setor financeiro e de consultorias projetam inflação ainda alta neste ano e condições muito ruins de produção, mas com possibilidade de modesta expansão em 2017. Nada de grande entusiasmo, portanto, mas o governo poderá transformar essa pequena melhora de humor num importante reforço para sua política, se for capaz de avançar, em pouco tempo, na redefinição da política econômica.
A inflação prevista pelos consumidores diminuiu em maio, pela terceira vez consecutiva, depois de 13 meses de alta, de acordo com os últimos dados da FGV. A mediana das expectativas para os próximos 12 meses caiu de 10,7% em abril para 10,3% em maio. Continua muito acima do limite de tolerância (6,5%) e da meta oficial de 4,5%, mas indica uma percepção mais favorável dos fatos.
Fatores objetivos, como o crédito farto e excesso de gasto público, são normalmente as fontes mais importantes de pressão inflacionária, mas a expectativa de consumidores e empresários também é determinante da alta de preços. Antes de iniciar uma baixa de juros, dirigentes do Banco Central (BC) devem refletir sobre como a sua decisão poderá afetar a confiança, ainda frágil, de produtores, distribuidores e consumidores.
No mercado, a inflação projetada para este ano subiu em uma semana de 7% para 7,04%, de acordo com a pesquisa semanal do BC. A projeção para 2017 continua em 5,5%, dentro da tolerância, mas acima da meta. Se as contas públicas melhorarem, chegar à meta no próximo ano será mais fácil do que parece neste momento. Por enquanto, o recuo da inflação é atribuível principalmente à recessão e à insegurança dos agentes, ainda considerável, apesar de alguma melhora de humor.
No caso da produção, as expectativas são divergentes e até as melhores previsões são ainda pouco otimistas. O Índice de Confiança da Indústria calculado pela FGV subiu 1,3 ponto de abril para maio e chegou a 78,8 pontos, nível mais alto desde março de 2015, quando bateu em 79,5. O índice de situação atual aumentou 1,9 ponto, para 81,7, e o de expectativas chegou a 76,3, com alta de 0,7 ponto. Mas o indicador continua na zona negativa, abaixo de 100. A melhora aponta, portanto, basicamente uma redução do pessimismo na avaliação dos dados presentes e do cenário futuro.
A pesquisa Focus continua mostrando uma percepção ainda muito sombria dos técnicos do mercado. A contração econômica estimada para este ano passou em uma semana de 3,88% para 3,83%, com melhora quase insignificante de 0,05 ponto porcentual. No caso da produção industrial a previsão piorou, com redução calculada de 6%. Uma semana antes o número negativo era 5,85%.
O lado mais animador do quadro é formado pelas projeções para 2017. A estimativa de aumento de 0,5% para o Produto Interno Bruto (PIB) repete a da semana anterior. O crescimento previsto para a indústria subiu de 0,74% para 0,9%. Números positivos tornam o cenário muito mais luminoso, mas as bases de comparação, para o PIB e para a produção industrial, são muito baixas. Ainda haverá um longo percurso até a retomada dos níveis anteriores à recessão.
Por enquanto, o comportamento de empresários e de consumidores continua marcado por muita cautela, com baixa disposição para novos compromissos. Não se investe, pouco se consome e evita-se tomar novos empréstimos. A promessa de mudança econômica pode trazer algum otimismo, mas, além de cuidar dessa área, o governo tem de evitar novos tropeços políticos.
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