Em meio à tensão provocada pelo avanço da Operação Lava Jato no encalço de líderes do seu partido, o presidente interino, Michel Temer (PMDB), colheu nos últimos dias vitórias significativas no Congresso.
Primeiro, os parlamentares autorizaram a mudança da meta orçamentária do governo, que resolveu incorporar às projeções oficiais um deficit de R$ 170,5 bilhões.
Depois, na quarta-feira (8), o Senado aprovou a prorrogação da DRU (Desvinculação de Receitas da União), mecanismo que permite ao governo deixar de cumprir alguns gastos obrigatórios. O assunto seguirá para a Câmara.
Horas depois, em uma votação previsível, os senadores avalizaram o nome de Ilan Goldfajn para presidir o Banco Central.
No mesmo dia, o Senado ainda aprovou um projeto de lei de iniciativa do PSDB que pretende aprimorar a elaboração do Orçamento nas várias esferas de governo.
Tais êxitos atestam, ao menos por ora, a eficácia da estratégia que o presidente interino adotou ao montar seu gabinete. Dividindo o ministério entre os grupos políticos que ajudaram a depor a presidente Dilma Rousseff (PT), Temer garantiu uma base de apoio expressiva neste primeiro momento.
Seu teste mais relevante, contudo, ocorrerá quando os congressistas vierem a examinar a proposta de fixação de um teto para a expansão dos gastos públicos.
Os detalhes desse plano ainda estão por ser conhecidos, mas um aspecto parece certo: a mudança comprimirá dispêndios com saúde, educação e outras áreas politicamente sensíveis. Imagina-se, pois, que haverá resistências.
Pior para Temer, as negociações sobre o assunto ocorrerão num Congresso preocupado com o progresso da Lava Jato. Basta dizer que o Supremo Tribunal Federal examina pedidos de prisão do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), do ex-presidente José Sarney (AP) e do senador Romero Jucá (RR).
Decerto as investigações não incomodam apenas esses peemedebistas. Muitos outros políticos devem calcular que sua sobrevivência depende antes de esforços para furar o cerco dos procuradores do que do andamento das reformas sugeridas pelo presidente interino.
Até agora, Michel Temer tem oscilado entre a defesa das políticas austeras encampadas por sua equipe econômica e a concessão de cargos, aumentos salariais e outras benesses para aplacar a ansiedade de aliados e corporações.
Em breve, no entanto, o presidente interino precisará fazer escolhas difíceis —e não está claro como ele se sairá quando for posta à prova sua determinação para perseguir as mudanças necessárias ao equilíbrio das contas públicas.
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