- O Estado de S. Paulo
O presidente Michel Temer viajou preocupado. Está com um olho na China, de onde espera atrair investimentos de quase US$ 270 bilhões, e outro no Brasil. Ou, pelo dito popular, Temer está com um olho no peixe, a faixa presidencial, e outro nos gatos, o PT e os vários mandados de segurança que foram impetrados no Supremo Tribunal Federal que tratam do processo de impeachment de Dilma Rousseff.
Temer tem razão de estar preocupado.
A lambança comandada pelo PMDB na votação do impeachment, que cassou o mandato de Dilma Rousseff, mas lhe preservou os direitos políticos e a habilitação para ocupar cargos públicos, não só vai prolongar a longa agonia vivida pelo País durante o processo de impedimento da presidente. Deixará Temer por mais um tempo sem saber se é presidente efetivo ou interino. Os mandados de segurança, tanto de Dilma quanto dos partidos aliados a Temer, podem até levar à anulação do julgamento do impeachment. Nesse caso, Temer voltaria à condição de presidente interino.
Mas não é só isso.
Dilma foi afastada da Presidência da República no dia 12 de maio. Diz a Constituição que o afastamento se dá por 180 dias. Caso o julgamento do impeachment seja anulado depois do dia 12 de novembro, Dilma voltará ao poder, independentemente do andamento da ação. E Temer à condição de vice, um vice ao qual Dilma atribui conluios obscuros para a tomada do poder.
Portanto, a crise do impeachment não terminou. Apenas atravessou a rua, para usar uma expressão do presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski.
Os mandados de segurança envolvem uma questão técnica. O STF vai dizer se o impeachment valeu ou não valeu, se Dilma deve ou não preservar seus direitos políticos, se Temer é presidente efetivo ou interino. Não há outro jeito. Só resta esperar.
As consequências políticas da ação comandada pelo PMDB em favor de Dilma, no entanto, já podem ser sentidas. Se os peemedebistas esperavam alguma vantagem ao partido ou ao governo de Michel Temer com o oportunista e falso ato de caridade para com Dilma, quebraram a cara.
O PT não é bobo. Está ferido com as denúncias de uso de caixa 2 em campanhas presidenciais e de corrupção que envolvem ex-dirigentes, além de passa por um desgaste impressionante.
Assim que houve o fatiamento da decisão do Senado, o PT enxergou a sua grande chance de sair da defensiva e partir para o ataque.
Imediatamente levada à condição de líder do PT, o que ela nunca foi, assim que o julgamento do impeachment terminou Dilma Rousseff fez o mais virulento apelo à militância petista e aos partidos que a apoiam para que travem “a mais firme, incansável e enérgica oposição que um governo golpista pode sofrer”. Temer e seus aliados foram qualificados como “um bando de corruptos investigados”.
Como Renan Calheiros pertence ao PMDB, e é investigado em ação no STF, ele se enquadra perfeitamente no perfil traçado por Dilma. Se Renan achou que seria visto como misericordioso, ao patrocinar o acordo que garantiu a Dilma os direitos políticos e a possibilidade de ocupar cargos públicos, ela não teve a menor piedade nem dele nem do governo do qual ele é aliado.
Se Renan confiava que receberia do PT um agradecimento pela mão que estendeu a Dilma, deu-se muito mal.
O PT decidiu numa reunião de sua direção realizada ontem, da qual participou o ex-presidente Lula, que vai copiar em 2016 a campanha suprapartidária das Diretas-Já, de 1984, que mobilizou milhões de pessoas em todo o País e visava a eleger, pelo voto direto, o sucessor de João Figueiredo, o último general-presidente da ditadura militar.
Há 32 anos a campanha transformou-se num marco da luta democrática, embora derrotada pelo Congresso. Reeditada, será a bandeira do PT para as próximas campanhas eleitorais. Desta vez, no lugar dos militares, o alvo é Temer.
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