- Folha de S. Paulo
O Brasil sai um país melhor ou pior depois do impeachment de Dilma Rousseff?
Como tudo na vida, o impedimento encerra aspectos positivos e negativos. O mais importante ponto favorável, a meu ver, é que a defenestração da líder petista interrompeu um processo de agravamento da crise econômica. Por uma série de razões que não cabe comentar aqui, a permanência de Dilma no Planalto se tornara uma fonte de incerteza, dificultando a aprovação de necessárias reformas econômicas no Congresso e afugentando investimentos.
Outro item que me parece positivo é que o país conseguiu proceder à deposição seguindo as prescrições constitucionais. Em outros tempos, crises dessa magnitude em países latino-americanos costumavam levar a rupturas violentas da legalidade.
Embora compreenda o sentimento de injustiça dos petistas, que viram sua presidente ser removida do cargo por violações que outros mandatários também cometeram, acho bom que questões orçamentárias deixem de ser vistas como detalhes menores e passem a ser tratadas com rigor. O susto talvez leve outros administradores a lidar de forma menos promíscua com as finanças públicas.
Do lado negativo, o impeachment abre feridas políticas que custarão a cicatrizar. Se o diálogo entre o PT e os partidos que lhe faziam oposição nunca foi bom, ele agora piora bastante e atinge ex-aliados como o PMDB. O PT deverá passar os próximos anos gritando que foi vítima de um golpe, o que prejudica negociações que ajudariam o país a resolver a encrenca fiscal em que se meteu.
A saída de Dilma também nos lega o governo Temer, que é fraco e sofre de um déficit de legitimidade. Mas, se é verdade, como declararam petistas, que o impeachment substituiu a vontade das urnas por um colégio eleitoral, é o caso de esclarecer que o grande eleitor desse colégio foi Dilma Rousseff, que foi quem escolheu Temer como companheiro de chapa.
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