- Valor Econômico
• Eleição municipal deve dar mais força ao bloco em 2018
O balanço consolidado das eleições ainda será apurado, após a realização do segundo turno no último fim de semana do mês. E os desdobramentos da Operação Lava-Jato, o ainda imprevisível cacife político do presidente Michel Temer e as disputas internas nos partidos em nada facilitam os prognósticos sobre como o pleito municipal influenciará a disputa presidencial, quem serão e em que condições chegarão os principais candidatos à campanha de 2018. No Congresso Nacional, no entanto, já há uma percepção: o próximo presidente da República deverá lidar com um Centrão fortalecido.
Parte considerável dos partidos que integram o chamado Centrão - PP, PTB, PSC, PEN, PR, PSD, PRB, PTN, PTdoB, PSL, SD, PHS e Pros - teve um bom desempenho no primeiro turno das eleições municipais. Eles também estão bem posicionados para o segundo turno, o que lhes deve garantir exércitos mais fortes de prefeitos e vereadores na campanha de 2018.
O Centrão já detém força suficiente para proporcionar a governabilidade ou criar obstáculos ao Executivo. Hoje, é formado por cerca de 220 deputados, sem contar os pemedebistas que atuam alinhados ao bloco. Mesmo ocupando diversos cargos na administração Dilma Rousseff, desempenhou papel decisivo no processo de impeachment da ex-presidente e hoje é um dos avalistas deste início de governo Temer. A posição de seus integrantes pode selar o destino das votações na Câmara.
O início da relação entre o Centrão e o governo de Michel Temer também foi relativamente atribulado. Embora preferissem negociar individualmente com cada partido da base, o que minaria a união do bloco, os articuladores políticos do Palácio do Planalto perceberam que uma postura beligerante não seria uma boa tática. Assim, evitaram criar atritos com o Centrão, fortaleceram esse canal de diálogo e reduziram os riscos de ficarem dependentes de PSDB e DEM. Como resultado dessa aproximação, o Centrão passou a contribuir, por exemplo, com a tramitação da proposta de emenda constitucional (PEC) que limita o crescimento dos gastos públicos, cuja aprovação é uma das prioridades de Temer e da equipe econômica.
Concluída a votação da PEC, porém, o bloco deve concentrar suas forças para recuperar o protagonismo que recentemente teve sob a liderança do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha. A primeira batalha se dará na eleição para a presidência da Câmara. Na sucessão de Cunha, que renunciou ao cargo antes de ser cassado, o Centrão se dividiu e lançou vários candidatos. O deputado Rogério Rosso (PSD-DF) foi para o segundo turno, mas viu deputados do PR apoiando seu adversário e vencedor do pleito, o atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Além de tentar evitar a reeleição de Maia, o Centrão terá a difícil missão de compor uma chapa que agrade pelo menos a grande maioria dos partidos do bloco - o que foi impossível de articular em uma eleição avulsa, como a realizada para escolher o substituto-tampão de Cunha. O PSDB também almeja a vaga, e a disputa provavelmente exigirá um esforço do Planalto para pacificar a base governista depois que o próximo presidente da Câmara for escolhido.
Seja qual for o resultado da eleição, porém, o instinto de seus líderes levará sempre o Centrão a buscar ampliar o seu raio de ação. Algumas dessas legendas já administram um grande número de municípios e conseguiram eleger mais prefeitos no último dia 2, como o PSD. O partido do ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, cresceu 8,2% no primeiro turno em relação à eleição de 2012 ao vencer em 539 municípios - ficando entre os destaques do pleito, atrás de PMDB e PSDB. Diferentemente de PTB e PTdoB, os candidatos de PP, PR, PSL e PSC também se saíram bem. Já PRB, PHS e PTN tiveram os maiores crescimentos em termos relativos, e ampliaram suas respectivas bases e a capilaridade de seus cabos eleitorais país afora.
Além disso, os partidos do Centrão estão no segundo turno em diversas capitais, como Florianópolis, Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Vitória, Campo Grande, Fortaleza, Manaus e Porto Velho. Também concorrem na etapa final das eleições em outras cidades estratégicas: Caxias do Sul (RS), Canoas (RS), Blumenau (SC), Joinville (SC), Maringá (PR), São Gonçalo (RJ), Duque de Caxias (RJ), Volta Redonda (RJ), Vila Velha (ES), Bauru (SP), Diadema (SP), Osasco (SP), Suzano (SP), Jundiaí (SP), Jaboatão dos Guararapes (PE), Olinda (PE) e Anápolis (GO).
Tratar o Centrão como um grupo homogêneo é um erro. Afinal, PTB e Solidariedade, por exemplo, têm em suas fileiras parlamentares ligados ao sindicalismo e a setores da sociedade contrários à reforma da Previdência. O grupo não atua necessariamente de forma coesa em todas as votações, embora em geral seja favorável a propostas que atendam às demandas do setor produtivo e também tenha se beneficiado da onda conservadora que cresceu no País.
A reforma política a ser votada pelo Congresso pode levar a uma reengenharia do bloco, uma vez que os partidos nanicos que fazem parte do Centrão podem ser filtrados pela cláusula de barreira. Mesmo assim, uma nova janela para o troca-troca partidário ou fusões entre legendas tenderiam a manter o Centrão como uma das principais forças da Câmara dos Deputados e de qualquer base governista. Ainda mais se o bloco for bem sucedido no projeto de ampliar sua bancada na legislatura que se iniciará em 2019, ganhando poder de barganha para negociar com o próximo governo e influenciar a agenda legislativa.
Aos poucos, o Centrão começa a conseguir desvincular sua imagem à de Eduardo Cunha. Seus próximos desafios são evitar que a eleição para a Câmara imploda a harmonia do bloco e, na sequência, deixar de ser visto como exemplo do "toma lá, dá cá" que frequentemente norteia as relações entre o Palácio do Planalto e o Parlamento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário