Por André Guilherme Vieira – Valor Econômico
SÃO PAULO - Durante seus depoimentos prestados em delação premiada à Operação Lava-Jato, o herdeiro e ex-presidente do Grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, confirmou aos procuradores a realização de pagamentos, inclusive em espécie, destinados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apurou o Valor PRO, serviço em tempo real do Valor.
O empresário afirmou, nos depoimentos que estão compondo as páginas de seus termos de delação premiada, que os valores destinados a Lula tiveram origem no Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, um departamento dedicado ao controle das propinas pagas pelo grupo de empresas a políticos e a servidores públicos, revelado no início do ano com a delação premiada da ex-secretária do executivo, Maria Lúcia Guimarães Tavares.
Em nota, a defesa de Lula disse que não comenta "especulação de delação" e que, na avaliação dos advogados que representam o ex-presidente, nenhuma das 23 testemunhas selecionadas pelo Ministério Público Federal na ação penal a que Lula responde por suposta ocultação de propriedade de um tríplex, no Guarujá, "confirmou qualquer das teses acusatórias".
A versão narrada por Marcelo Odebrecht vai ao encontro da linha de investigação conduzida pela Polícia Federal (PF) do Paraná na Operação Lava-Jato.
Para a PF e o Ministério Público Federal (MPF), os documentos do departamento de propinas indicam pagamentos que somariam R$ 23 milhões a Lula, dos quais R$ 8 milhões teriam sido pagos em 2012, "sob solicitação e coordenação de [Antonio] Palocci", afirma o relatório policial de indiciamento do ex-ministro nos governos do PT, que está preso e responde por corrupção e lavagem de dinheiro. Marcelo Odebrecht também teria explicado a destinação dada aos R$ 15 milhões restantes.
A investigação aponta ainda que o codinome "amigo" relacionado em planilhas de pagamentos da Odebrecht seria uma referência ao ex-presidente.
O apelido aparece também em trocas de e-mails e mensagens de Marcelo Odebrecht como "amigo de EO" e "amigo de meu pai". Trataria-se de uma referência à amizade mantida por Lula com Emílio Odebrecht, pai de Marcelo, que prestou seu primeiro depoimento em delação premiada na Operação Lava-Jato ontem, na sede da Procuradoria-Geral da República (PGR), em Brasília.
Marcelo Odebrecht começou a falar em delação premiada na segunda-feira, no edifício da PF de Curitiba. Seus depoimentos estão sendo registrados em vídeo.
Na terça-feira o empresário prestou o depoimento mais longo até agora. Começou às 9 horas e só foi encerrado às 19 horas. Contou com apenas uma pausa - de duas horas - para o almoço.
Marcelo tem falado com os procuradores na presença de dois de seus advogados. Os depoimentos têm contado com a participação de ao menos quatro procuradores e acontecem em salas localizadas no segundo piso do prédio da PF em Curitiba. Na terça-feira os depoimentos ocorreram na sala 209, atendendo a um pedido do criminalista Luciano Feldens.
Nenhum comentário:
Postar um comentário