Disputa em São Paulo opõe Alckmin e PSDB
• Governador articula apoiar PSB na eleição de seu sucessor, mas tucanos querem candidatura própria
Maria Lima e Cristiane Jungblut - O Globo
BRASÍLIA - Partido decide lançar candidato próprio em São Paulo, passando por cima do plano do governador Geraldo Alckmin de apoiar seu vice, Márcio França (PSB). A permanência de Aécio Neves no comando da legenda já tinha irritado Alckmin. -BRASÍLIA- A inesperada recondução do senador Aécio Neves (MG) à presidência do PSDB por mais um ano, com o apoio maciço da Executiva Nacional, não será o único motivo de irritação para o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin. Depois de viabilizar a permanência de Aécio, o que permitirá a ele comandar o processo de escolha do candidato a presidente em 2018, um outro movimento da cúpula do PSDB deverá levar a uma nova rota de colisão com o governador paulista: o partido vai brigar para ter um nome próprio na disputa do governo de São Paulo. O lançamento inviabilizaria uma articulação antiga com o PSB para apoiar a candidatura do vice-governador, Márcio França, em troca do apoio dos socialistas a uma eventual candidatura de Alckmin a presidente.
Na contramão de Alckmin, que defende nos bastidores o afastamento do governo Michel Temer e fez críticas à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do teto de gastos, o ministro das Relações Exteriores, José Serra, se reaproximou de Aécio, também alinhado a Temer. Serra apoiou a reeleição do senador ao comando da sigla, mas nega que terá o apoio de Aécio para disputar o governo de São Paulo em 2018. O ministro, no entanto, segue a posição majoritária no partido e defende que o PSDB tenha candidato próprio em São Paulo.
— Pela representatividade que o PSDB tem a nível nacional, não pode abrir mão de disputar com candidato próprio o governo de São Paulo. É natural que o PSDB dispute com um candidato próprio — defende Serra.
Segundo tucanos ouvidos pelo GLOBO, caso Serra ou outro nome forte no estado resolvam disputar o governo, o ato agradaria o partido e seria visto como um gesto para fortalecer a legenda. Mesmo com a negativa de Serra de que exista uma articulação para que ele seja o candidato, aliados dizem que o PSDB terá candidato em São Paulo e que “nem se discute outra hipótese".
— Governo estadual? O PSDB terá candidato — confirma o vice-presidente nacional do PSDB, Alberto Goldman.
Em outra frente, o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, diz que a candidatura do Márcio França é tratada como prioridade no partido. Segundo ele, a nova postura do comando do PSDB e a reação de Alckmin têm que ser analisadas com cuidado.
— Não sabemos qual será o movimento do governador (Alckmin): se ele vai se resignar e continuar no PSDB, ou se vai buscar viabilizar sua candidatura (à Presidência). Ele corre um tremendo risco se continuar. Se o PSDB tratasse como prioridade sua candidatura a presidente, não teria essa mudança no comando, uma medida que o contraria. Se ele der sinais de que está desconfortável, o movimento pode ser diferente (sair) — pondera Siqueira, ressaltando que não é hora de se falar em convite para Alckmin ingressar no PSB.
Mais forte aliado do governador de São Paulo na Executiva Nacional, o secretário-geral do partido, deputado Sílvio Torres (SP), diz que não há nada definido sobre a sucessão do governo estadual. Torres e o deputado Eduardo Cury (SP) foram os dois únicos votos contrários à recondução de Aécio, que teve o aval do presidente de honra da legenda, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
— Não há definição nenhuma sobre sucessão em São Paulo, a exemplo de Brasília — diz Torres.
Os tucanos, majoritariamente, minimizam a possibilidade de Alckmin ir para o PSB. O prefeito eleito de São Paulo, João Doria, bastante próximo ao governador, já declarou que nenhum deles dois deixará o partido. Um outro cacique tucano faz críticas à atuação de Alckmin nas negociações que levaram à recondução de Aécio, mas afirma que as chance de saída do PSDB é “quase zero”.
— Alckmin está furioso com a recondução de Aécio. Mas foi consultado para participar do processo e fez cara de paisagem, achando que o melhor era cumprir o calendário que previa a escolha do novo presidente daqui a cinco meses. Não quis entrar no jogo e foi atropelado. Acho que quase ninguém do PSDB, nem Doria, vai segui-lo (se deixar a legenda). Vão deixar um partido que estourou nas eleições para o PSB que não tem expressão nacional? — questiona.
Enquanto Alckmin quer se afastar do governo Temer, Aécio, nas duas últimas semanas, atuou para reaproximar o partido do Palácio do Planalto. Em uma conversa com o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), Temer disse que precisava do apoio do partido, mas deixou claro precisaria esperar para nomear um tucano no governo. As informações de que Imbassahy fora o escolhido para suceder a Geddel Vieira Lima na Secretaria de Governo geraram uma rebelião na base. A reação causou o recuo de Temer, mas o presidente chamou Imbassahy para um encontro no Palácio do Jaburu, num gesto político importante. No dia seguinte, o presidente se reuniu com Aécio e com o líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDBSP), e também reforçou a importância do apoio dos tucanos ao governo.
Na última quarta-feira, em mais um gesto de aproximação, toda a bancada do PSDB no Senado almoçou com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, para receber em primeira mão as medidas do pacote de medidas econômicas que seria anunciado no dia seguinte.
Por meio da assessoria, Alckmin disse que prefere não se manifestar sobre as articulações, porque não está se envolvendo com questões partidárias.
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