terça-feira, 3 de janeiro de 2017

O que os búzios dizem - José Márcio Camargo

- O Estado de S. Paulo

• O que podemos esperar do comportamento da economia brasileira neste novo ano?

Ano novo, vida nova. É hora de jogar os búzios e interpretar o que eles estão dizendo para 2017. O que esperar do comportamento da economia brasileira neste novo ano? Porém, não confiem muito. Afinal, ainda que os búzios estejam sempre corretos, a probabilidade de que nossa leitura esteja certa não passa de 50%. Mas não se esqueçam: a probabilidade de errar também é de 50%.

Nossa leitura diz que a taxa de desemprego na economia brasileira deverá continuar a aumentar até o primeiro trimestre de 2017, quando terá atingido um número próximo a 13% da força de trabalho, estabilizando a partir daí pelo menos até o final do ano. Teremos 1 milhão de desempregados a mais no final do primeiro semestre do próximo ano. O aumento do desemprego vai intensificar a queda da taxa de inflação de serviços a partir do primeiro trimestre, devendo atingir um nível próximo a 4,5% no fim do ano.

Com a taxa de inflação se dirigindo para a meta, o Banco Central (BC) poderá acelerar o afrouxamento da política monetária já no início do ano. Afinal, uma vez na meta, o objetivo da política monetária passará a ser manter a inflação constante e não gerar desinflação.

A taxa de juros real poderá caminhar para um nível mais próximo a 4,5% ao ano – bem inferior aos 7,0% atuais – e a Selic se aproximará dos 9,0% ao ano. O Banco Central estará colhendo os frutos plantados neste ano ao resistir às pressões para iniciar prematuramente o relaxamento da política monetária. Parabéns ao BC.

Como os reajustes de salários no Brasil são muito influenciados pela inflação passada, os búzios estão prevendo reajustes médios próximos a 6,0%. Como o salário real depende da inflação presente, que estará caminhando para a meta de 4,5%, teremos um aumento dos salários reais médios ao longo do ano. Com taxa de desemprego estável, juros reais mais baixos e salários reais em elevação, a previsão é de que a partir do terceiro trimestre o consumo das famílias começará a reagir em alta. Serão os primeiros sinais de retomada do crescimento.

Ao contrário do que sugerem os dados, os búzios estão indicando que o grau de ociosidade na indústria brasileira é menor do que parece à primeira vista. Isso porque uma parte significativa dos investimentos feitos nos últimos dez anos foi simplesmente má alocação de capital. O resultado é que esse estoque de capital dificilmente poderá ser utilizado no futuro próximo. Os investimentos nas refinarias Premium do Nordeste, no Comperj e os investimentos na indústria naval são exemplos desse fato. Com isso, a previsão é de que os investimentos devem voltar a crescer no final de 2017.

Juntando tudo isso, nossa leitura aponta para um PIB crescendo 0,7% no ano, na média, mas acelerando para um nível próximo a 2,0% anualizado no quarto trimestre de 2017.

Finalmente, a expectativa é de que o projeto de reforma da Previdência será aprovado com poucas mudanças até meados do ano.

Dois fatores poderão afetar negativamente as previsões:

• a reação da China à provável política protecionista do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump. Caso a China retalie com mais protecionismo, a expectativa é de desaceleração da economia mundial e pressão inflacionária. Se, ao contrário, a reação for compensar com maior abertura ao comércio com a Europa e o mundo emergente, o resultado poderá ser maior crescimento para o Brasil;

• os efeitos da Operação Lava Jato sobre a estabilidade do governo Temer. Dependendo de como caminhar a operação, o efeito desestabilizador sobre a economia poderá ser bastante forte e imprevisível.

Com ou sem jogar os búzios, um feliz 2017 a todos!
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Professor do Departamento de economia da PUC/Rio, é economista da Opus Gestão de Recurso

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