Por Daniel Rittner, Andrea Jubé, Fernando Taquari e Raymundo Costa | Valor Econômico
BRASÍLIA - Pego de surpresa pelo pedido de demissão do chanceler José Serra, o presidente Michel Temer deu início ontem mesmo à busca por um sucessor, mas não descarta deixar o anúncio para a volta do Carnaval. Ele se reuniu com o ministro da Secretaria de Governo, Antônio Imbassahy, e com o senador tucano Aécio Neves (MG) para avaliar possíveis substitutos.
Temer foi aconselhado por auxiliares próximos a manter o Itamaraty na cota do PSDB. Ele está preocupado em contemplar o partido porque os tucanos perderam dois ministérios - Relações Exteriores e Justiça - em 15 dias.
O líder do governo no Senado, Aloysio Nunes (PSDB-SP), chegou ao fim do dia com amplo favoritismo para a sucessão de Serra. Ele se tornou nome de consenso entre a bancada tucana na Casa. Foi presidente da Comissão de Relações Exteriores e tem o perfil adequado para o cargo, segundo parlamentares da legenda. Ao contrário de suas declarações públicas, Aloysio sinalizou a colegas que aceitaria a indicação se isso unir o partido.
Um dos obstáculos para a nomeação é que o senador paulista se aproxima do fim do mandato e precisaria se afastar do Itamaraty daqui a 13 meses caso tenha planos de um cargo eletivo em 2018.
Em um primeiro momento, Aloysio disse que não queria o cargo e preferia colaborar com o governo no Congresso, mas foi convencido pelo próprio Serra a rever sua posição. O ex-chanceler atuou para manter o Itamaraty com o PSDB de São Paulo e levou ao presidente, no Palácio da Alvorada, a notícia de que Aloysio tinha o respaldo total da bancada.
O paulista José Aníbal, suplente de Serra no Senado, era um dos nomes mais fortes. Ele é amigo de longa data de Temer. Ontem à noite, porém, dizia a interlocutores próximos que o Itamaraty deveria ficar mesmo com Aloysio.
Outros dois senadores tucanos chegaram a ser cotados para o ministério. Tasso Jereissati (CE) contava com o apoio do presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e Antônio Anastasia (MG) era um nome defendido por assessores presidenciais.
Mais cedo, não se descartava uma solução caseira para o Itamaraty. Figuravam entre os cotados Marcos Galvão, secretário-geral do ministério, e Sérgio Amaral, que foi porta-voz e ministro do Desenvolvimento no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Amaral já estava aposentado e tornou-se embaixador do Brasil em Washington no ano passado, mas muitos diplomatas questionam se ele ainda teria vitalidade para assumir uma rotina pesada de viagens como chanceler.
O embaixador Fred Arruda, assessor internacional de Temer desde seus tempos como presidente da Câmara dos Deputados, era tido como nome forte caso a escolha fosse estritamente pessoal. Arruda, que já chefiou as representações brasileiras junto a organizações econômicas em Londres, goza da máxima confiança de Temer. Tem perfil discreto e transita com desenvoltura junto às embaixadas de outros países em Brasília, que reclamavam das portas fechadas no gabinete de Marco Aurélio Garcia, seu antecessor no Palácio do Planalto. Um dos diplomatas mais próximos de Aloysio Nunes é Eduardo Saboia, que fazia parte de sua assessoria na comissão do Senado. Ele foi responsável pela fuga do ex-senador boliviano Roger Molina, que estava asilado na embaixada do Brasil em La Paz.
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