- Folha de S. Paulo
A extinção dos dinossauros na passagem do Cretáceo (K) para o Terciário (T) abriu uma série de nichos ecológicos que permitiram que os mamíferos prosperássemos. Minha impressão é que a Lava Jato deve desempenhar na política papel semelhante ao que teve a extinção KT sobre a biodiversidade.
A pesquisa Datafolha publicada segunda mostra Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro bem posicionados para o pleito de 2018, mas vejo-os como um par de tiranossauros que ainda perambulam pela Terra no final do Cretáceo, mas que não têm diante de si um futuro muito brilhante. Digo isso porque suas taxas de rejeição são elevadas —46% no caso de Lula e 30% no de Bolsonaro, que, entretanto, ainda é desconhecido por quase 40% do público.
Mais do que isso, o repúdio a esses dois candidatos, creio, é do tipo bem consolidado. Mesmo um bom marqueteiro teria dificuldade para torná-los palatáveis para a população que pegou raiva do PT ou que não compactua com ideias de extrema direita. E, numa eleição em dois turnos como a nossa, postulantes com alta rejeição enfrentam dificuldades.
O teorema do eleitor mediano, embora de vez em quando pareça falhar, como foi o caso de Donald Trump, que venceu com um discurso radical, continua em vigor. A eleição nos EUA, vale frisar, não é em dois turnos. Na verdade, não é nem direta e, se ali vigorasse o princípio do "um homem, um voto", Hillary Clinton teria triunfado com quase 3 milhões de sufrágios a mais que Trump. Um caso como o de Emmanuel Macron, que venceu na França justamente por ser o candidato não extremista e não metido em escândalos, me parece mais típico que o de Trump.
É claro que períodos turbulentos aumentam o risco de elegermos aventureiros, mas existe uma avenida ecológica para que surjam nomes capazes de fazer frente à dupla Lula-Bolsonaro. É preciso dar tempo para que o processo eleitoral os revele.
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