Câmara adia debate da reforma política em plenário para a próxima semana
Deputados ainda divergem sobre distritão e fonte dos recursos para fundo milionário eleitoral; líder do governo já admite que não há votos necessários para aprovar distritão
Felipe Frazão e Isadora Peron | O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - A Câmara dos Deputados adiou para a semana que vem a previsão de votar, em plenário, as novas regras eleitorais. Partidos da base governista, sobretudo do Centrão, demonstraram resistência às mudanças discutidas na reforma política. Os deputados devem concluir nesta terça-feira, 15, os trabalhos da comissão especial, que trata do fundo público de R$ 3,6 bilhões para custear as campanhas e a mudança do sistema de votação para o chamado distritão.
O prazo inicial de votar o relatório de imediato em plenário, na noite desta quarta-feira, 16, atrasou. Para aprovar o texto, seriam necessários 308 votos, o que está cada vez mais incerto. “Com certeza só vai ao plenário na semana que vem”, disse o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), presidente da comissão.
Depois de uma frente de partidos, principalmente da oposição, ter feito campanha contra a mudança do sistema de votação para o distritão, siglas da base governista aderiram ao movimento. PR, PRB e PV fecharam questão contra o sistema em que apenas os parlamentares mais votados de cada Estado são eleitos – atualmente, as vagas são distribuídas por meio de um cálculo que leva em conta os votos dos deputados e os recebidos na legenda. Também há resistência ao modelo nas cúpulas do PP e do PSD.
“Distritão votamos contra. O fundo ainda vamos discutir, mas há uma tendência para ir contra no meio da bancada”, disse o presidente nacional do PRB, ministro Marcos Pereira (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior).
Já o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), rebateu nesta segunda-feira, 14, as críticas ao distritão e disse que o sistema, como um modelo de transição, “não é tão ruim assim”. “Eu acho que se a gente tiver uma transição, com o distrital misto em 2022, a gente deu um grande passo e conseguiu construir, a médio prazo, um modelo que vai conseguir dar racionalidade ao sistema brasileiro”, afirmou.
Pressão. A disputa sobre o controle das verbas do fundo eleitoral despertou a pressão dos dirigentes partidários sobre as bancadas. Líderes do Centrão e de legendas menores estão em desacordo com a proposta de estabelecer uma reserva de valores entre as candidaturas majoritárias (prefeito, governador e presidente). Eles querem ratear os recursos segundo os próprios interesses e estratégias eleitorais. Por isso, segundo um dos deputados que integram a cúpula da comissão, passaram a ameaçar a votar contra o distritão, como retaliação.
Bancadas como a do PSDB, DEM e PSD devem fazer reuniões nos próximos dias para discutir como votar sobre os dois principais pontos da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 77 de 2003, que deve ser a primeira a chegar ao plenário. A repercussão negativa da destinação de R$ 3,6 bilhões dos cofres públicos para custear campanhas também fez alguns parlamentares recuarem.
“Nós não temos posição consolidada sobre o fundo. Estamos numa escolha de Sofia. Tanto o financiamento privado (de empresas) quanto o público foram rejeitados. Temos que pensar se a transparência no processo democrático vale esse custo”, disse o líder do DEM, deputado Efraim Filho (PB), favorável ao distritão.
O relatório em debate, de autoria do deputado Vicente Cândido (PT-SP), estipula que os recursos para financiar campanhas sejam equivalentes a 0,5% da Receita Corrente Líquida, o que a equipe econômica do governo considera problemático em tempos de ajuste fiscal.
Vieira Lima cobrou que partidos que votarem contra o fundo abram mão de receber a verba, caso a proposta seja aprovada. “Quem estiver resistindo ao fundo, que não aceite depois, mesmo que aprove. É muito bonito criticar e receber o benefício. Qualquer coisa diferente disso é demagogia barata”.
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