Atentado reivindicado pelo Estado Islâmico em área turística europeia segue mesmo padrão de outros atropelamentos e visa a estimular o clima de medo e ódio
Pelo menos 13 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas, algumas em estado grave, ao serem atropeladas ontem em Las Ramblas, no coração turístico de Barcelona. A ação gerou pânico, com as pessoas procurando abrigo em lojas, enquanto as autoridades rapidamente isolaram a área. O grupo terrorista Estado Islâmico (EI) assumiu o atentado e, segundo a mídia local, um homem suspeito foi morto após troca de tiros com a polícia e outros dois acabaram presos.
Trata-se do oitavo ataque desse tipo no continente, desde 14 de julho do ano passado, quando um homem arremeteu um caminhão roubado contra a multidão, matando 86 pessoas que comemoravam o Dia da Bastilha, em Nice. De lá para cá, ocorreram atropelamentos em Berlim, Estocolmo, Paris e três ações em Londres.
Em alguns casos, os ataques foram perpetrados por células terroristas compostas por pessoas com cidadania europeia e, em outros, partiram dos chamados “lobos solitários”, simpatizantes do extremismo islâmico, que agem sob impulso, instigados pela obstinada pregação do EI. Nesta estatística, incluem-se investidas xenófobas contra a comunidade muçulmana na Europa, como o atentado em Londres contra pessoas que deixavam uma mesquita, em 19 de junho, matando uma delas e ferindo outras nove.
Não por acaso, os alvos das investidas do EI na Europa são as chamadas cidades abertas, isto é, metrópoles democráticas, altamente desenvolvidas, onde prevalecem as liberdades fundamentais, a diversidade cultural e os valores republicanos do Ocidente. As agressões, sem exceção, ocorrem em áreas movimentadas e turísticas, em geral regiões históricas de alto valor simbólico. Elas visam a chocar a opinião pública e instigar uma reação de medo e ódio, que alimenta, na outra ponta desta dialética, movimentos xenófobos e o nacionalismo de extrema-direita. Abalar os valores democráticos e sucumbir à tentação de limitar direitos fundamentais, como reação ao terror, são os objetivos reais das ações do EI.
Nesse sentido, não há como deixar de associar os atentados de ontem em Barcelona ao atropelamento de manifestantes em Charlottesville, no estado americano de Virgínia, por um ativista neonazista. Afinal, do outro lado do espectro ideológico em que opera o EI está o nacional-populismo, que tem como ícones figuras como Donald Trump e Vladmir Putin.
Isso não quer dizer que todos os cuidados necessários para prevenir, combater e punir aqueles que atentam contra a vida das pessoas não devam ser aprimorados constantemente, sobretudo a ampla troca de informações na comunidade mundial de segurança. Mas, respeitando sempre os direitos e as liberdades básicas que constituem a razão de ser de nossos valores civilizatórios.
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