Por Ricardo Mendonça | Valor Econômico
SÃO PAULO - Atingidos pela queda da demanda dos partidos, institutos que fazem pesquisas de intenção de voto procuram explorar o nicho aberto pelo aumento de encomendas por parte de bancos, fundos e corretoras. Na estratégia de algumas empresas é a forma de amenizar o impacto da reforma política de 2015, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) proibiu doações eleitorais de pessoas jurídicas e comprimiu os gastos de campanha. A percepção comum no setor é a de que o mercado financeiro nunca orçou e contratou tanta pesquisa de intenção de voto como em 2018.
O exemplo mais visível é o da XP Investimentos, que semanalmente tem aparecido no noticiário como contratante de pesquisa telefônica do Ipespe com mil entrevistas. Cada estudo foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por R$ 30 mil.
A ideia é levar a série até a eleição. A partir de agosto, a amostra sobe para 2 mil entrevistas. Se for até o segundo turno, o investimento total da XP nas contratações chegará perto de R$ 1 milhão.
Trata-se do caso mais notável porque a contratante optou por registrar os levantamentos na Justiça Eleitoral, condição obrigatória para quem quer fazer divulgação dos resultados. Segundo a diretora-executiva do Ipespe, Marcela Montenegro, a decisão pela divulgação foi para se precaver contra vazamentos e eventuais suspeitas de uso indevido das informações no mercado. Entre o Ipespe e a XP há um trato em que o instituto só envia resultados de pesquisa para a corretora no fim do dia, quando o mercado já estiver fechado.
Marcela confirma que há "enxugamento" de contratos com partidos, que agora dependem muito mais do financiamento público. "As campanhas continuam fazendo pesquisas, mas a frequência e o número de grupos nos estudos qualitativos diminuíram."
Mauricio Moura, da Ideia Big Data, fundada em 2011, diz que nunca foi tão demandado pelo mercado financeiro. "São quase dez clientes. Bancos e fundos brasileiros e estrangeiros", afirma. Ele diz que no exterior há dois setores que sempre encomendaram pesquisa eleitoral, além de partidos e veículos de comunicação: mercado financeiro e petroleiras. Ele vê o aumento do interesse de bancos e corretoras no Brasil como "um alinhamento" com o que há em outros países.
Haveria ainda, segundo Moura, uma explicação conjuntural: a incerteza do quadro eleitoral, o que aumenta a procura por informação segura. "Essa eleição está altamente indefinida. Quando a polarização PT versus PSDB era mais evidente, talvez sentissem menos necessidade de pesquisas e análises."
O movimento é mais perceptível para os institutos menores ou mais novos. Maior e mais tradicional empresa de pesquisas no país, o Ibope, que sempre teve clientes do mercado financeiro, não recebeu um número significativamente maior de encomendas desse setor neste ano, afirma a diretora Márcia Cavallari. O Ibope não faz pesquisas de intenção de voto sem ser por entrevistas face a face, levantamentos que são consideravelmente mais caros do que os feitos por telefone.
Mesmo quem ainda não fechou contrato com instituições do mercado financeiro diz ter percebido maior interesse do setor por levantamentos eleitorais. É o caso da Paraná Pesquisas, dirigida por Murilo Hidalgo. "Nunca fiz tanto orçamento para esse setor", diz. "Mas até agora, pelo menos, não há contrato assinado".
Hidalgo conta que tinha negociação em andamento com uma corretora, mas o processo acabou sendo barrado pela diretoria de compliance da instituição. "Ficaram com medo de gerar problema." Ele afirma que o interesse parecia maior antes da prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Os pedidos de orçamento diminuíram quando ficou claro que o Lula caiu fora [da disputa]."
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