A queda na procura por imunização traz a possibilidade grave da volta de doenças já erradicadas, e por isso Estado e sociedade precisam de mobilizar
O processo de degradação do quadro sanitário nacional é longo, lento, mas se mostra inexorável. O primeiro sintoma mais grave foi a volta do mosquito Aedes aegypti ao Rio, na década de 1970, depois de Oswaldo Cruz, no início do século XX, ter lançado uma campanha para sua erradicação e, por consequência, da febre amarela urbana. Em 1929, o Rio enfrentou sua última grande epidemia de febre amarela.
Vetor de doenças, o mosquito trouxe de volta ao Rio a dengue, que, durante algum tempo, pareceu ficar localizada na cidade e redondezas. Engano, porque surtos passaram a ocorrer em todo o Brasil. Voltou-se ao tempo de colônia. Até a febre amarela silvestre atacou no Sudeste.
Não se permite, impunemente, a ocupação desordenada das cidades, nem, como no caso do Rio de Janeiro, deixa-se de pagar algum preço ao impedir a ampliação da participação privada no trabalho de saneamento básico, mal executado pela Cedae.
Da dengue passou-se para outras doenças, incluindo a zika, com a terrível sequela da máformação cerebral de fetos, problema que se concentrou no Nordeste, mas sem deixar de espalhar o medo em outras regiões.
Todo esse histórico não mereceu do poder público, nos seus três níveis, algo além de ações emergenciais, tópicas. E agora surge uma enorme ameaça à população, principalmente crianças, com a redução da cobertura de vacinas a níveis perigosos.
Reportagem do último “Fantástico” sobre o assunto tratou do alto risco que representa a entrada de venezuelanos pelo Norte, em fuga do regime de Maduro, e sem imunização. Já são registrados mais de 300 casos de sarampo em Roraima e Amazonas. A cobertura de vacina contra a doença está abaixo dos 90%/95% exigidos.
Também preocupa a poliomielite (paralisia infantil). Segundo a “Folha de S.Paulo”, de 100% em 2002, a população-alvo vacinada caiu para 77% no ano passado.
Os índices de cobertura caem em várias doenças. O cenário é grave e, por isso, é necessária uma mobilização do poder público, à altura do problema, mas também da sociedade como um todo.
A população precisa ser conscientizada, com urgência. Ela tem de ser blindada contra campanhas de desinformação que circulam em redes sociais sobre a vacinação. Poder público e população têm de atuar de forma conjunta para evitar que casos como o da volta do sarampo se multipliquem.
Trata-se de uma situação típica em que o Estado, mas não só ele, precisa agir, por meio de campanhas de esclarecimento e de mobilização. Não é aceitável que todo o enorme aparato estatal, que custa cerca de 40% do PIB, mais do que é arrecadado em impostos, não consiga contribuir para evitar a volta de doenças que já foram formalmente erradicadas. A negligência na vacinação é fatal.
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