Siglas governistas evitam, por ora, se ligar a imagem de governo impopular
Daniel Carvalho e Marina Dias | Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Com o presidente da República mais impopular da história nas fileiras do partido, o MDB tornou-se radioativo nas conversas iniciais para a formação de alianças na disputa pelo Planalto, nacionalizando o isolamento que já era visto nos estados.
Apesar de ativos eleitorais valiosos, como a caneta de Michel Temer no comando da máquina federal, 86 segundos de tempo de TV, capilaridade nacional e dinheiro dos fundos eleitoral e partidário, o MDB é hoje alvo do pragmatismo de aliados, que tentam, pelo menos por enquanto, se desvincilhar da imagem do presidente e de seu governo.
O raciocínio começou a valer também para o principal fiador da gestão Temer, o PSDB. Como a Folha mostrou no domingo (24), tucanos e emedebistas só devem caminhar juntos em dois estados: no Espírito Santo, onde o governador Paulo Hartung (MDB) tentará a reeleição, e em Roraima, onde o tucano Anchieta Júnior tentará ser eleito com apoio emedebista.
Assim que assumiu a coordenação política da campanha presidencialdo tucano Geraldo Alckmin (SP), há duas semanas, o ex-governador Marconi Perillo (GO) incluiu o MDB na lista de partidos que seriam procurados em busca de aliança.
Ao longo da semana passada, no entanto, os tucanos decidiram mudar o discurso e passaram a tratar como inoportuna uma aproximação com a legenda.
A avaliação do PSDB é que, mesmo atingido pela Lava Jato, a situação do MDB —com Temer investigado por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa— é pior e poderia dificultar ainda mais a já pouco empolgante candidatura de Alckmin.
Somada à crise moral do MDB, os tucanos não veem disposição de Henrique Meirelles, candidato do partido, de desistir da corrida pela sucessão de Michel Temer.
Alckmin foi aconselhado por assessores a subir o tom e adotar uma postura mais hostil ao MDB, ao presidente e ao seu governo.
Com personalidade pacata, o tucano resistia mas, pressionado pela dificuldade em crescer nas pesquisas e ampliar seu arco de alianças, decidiu ir para o ataque, mesmo que de forma gradual e reativa.
O ex-governador de São Paulo não costuma —e deve continuar evitando— sair às ruas com discurso belicoso contra adversários, mas entendeu que, sempre que perguntado sobre Temer e o governo, deve responder de forma dura, marcando distanciamento.
Em suas entrevistas recentes, Alckmin tem repetido que quem escolheu o MDB como parceiro nos últimos anos foi o PT, não os tucanos, e que uma aliança com a legenda de Temer não está em discussão.
A postura mais beligerante do tucano, intensificada nos últimos dias, irritou Meirelles e o Palácio do Planalto.
Auxiliares do presidente afirmam que a alteração de postura tem pouca autenticidade e pode, inclusive, descaracterizar o ex-governador paulista como candidato.
Isso porque, avaliam, o tom mais agressivo não combina com o estilo de Alckmin e pode assustar seu eleitorado cativo, passando a imagem de que ele está desesperado.
Essa resistência inicial ao MDB se alastra por outros partidos da base de Temer no plano nacional —regionalmente, os arranjos ainda correm de acordo com interesses locais, com certa independência.
Para viabilizar uma alternativa na disputa presidencial, por exemplo, DEM, PP, SD e PRB se uniram no chamado centrão e iniciaram conversas com pré-candidatos, inclusive com Ciro Gomes (PDT), algo improvável meses atrás.
Para um parlamentar do DEM, a má vontade com o MDB poderá diminuir depois que o partido de Temer conseguir unir os três grupos que o integram hoje: aquele que defende a candidatura de Meirelles, o que quer o ex-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) Nelson Jobim na disputa, e a ala mais prática, que quer a manutenção do partido no poder, independente de quem vença as eleições.
Uma liderança do PR, por sua vez, diz acreditar que a rejeição deve durar enquanto Meirelles mantiver sua candidatura. Depois, por sobrevivência, o próprio MDB deve procurar outras siglas para evitar o isolamento eleitoral.
Com dificuldade de furar as resistências dentro do partido e, mais recentemente, em sua antiga seara, o mercado financeiro, Meirelles tenta reagir aos ataques de Alckmin.
O discurso do ex-ministro da Fazenda é de que uma aliança com o tucano hoje, como gostariam banqueiros e empresários, é inviável.
A aliados, Meirelles reconhece que Alckmin tem sido hostil à gestão Temer e até mesmo desrespeitoso com o presidente e, mais que isso, incoerente ao criticar as reformas defendidas pelo governo e que tiveram o apoio do PSDB.
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