A volta de doenças que estavam erradicadas ou sob controle se soma ao crescimento da mortalidade infantil
O debate econômico, que tende a crescer na campanha eleitoral, segue uma agenda conhecida —déficit público, Previdência, pobreza, inflação, saída da crise, e assim por diante. Nas entrevistas, sabatinas, confrontos, desfilam números, muitos dos quais apenas especialistas dominam.
Mas, por trás de tudo, existe uma população, em que mais de 13 milhões estão desempregados, com a vida em dificuldades. Outra marca da crise é deixada na saúde das pessoas. O Estado tem deficiências históricas na prestação de serviços, e a situação se agrava neste momento. O quadro sanitário se deteriora.
Há pouco, surgiu a assombrosa notícia de que, em 2016 — um dos anos da recessão engendrada pelo lulopetismo —, a mortalidade infantil voltou a crescer, depois de 15 anos. Segundo a Fundação Abrinq, com base em dados do Ministério da Saúde, a mortalidade entre crianças de 0 a 5 anos subiu de 14,3 para 14,9 por mil nascidos vivos, um aumento de 4,19%. Em 2000, o índice era de 30. Houve grande avanço, até este retrocesso. Que não defina uma tendência, oque depende do poder público.
A degradação da saúde tem sido confirmada pela volta de surtos de doenças desconhecidas das gerações mais novas: sarampo, poliomielite e outras. Ainda bem que, enfim, haverá, a partir de segunda-feira, uma campanha nacional de vacinação contra as duas. Mas demorou.
Muito antes da crise, já havia condições propícias par acertas doenças, devido à baixa cobertura do sistema de coleta e tratamento de esgoto (só atende 43% da população). Com a virtual quebra do Estado, sinalizada pela acumulação de elevados déficits —na União, em estados e municípios —, a rede de controle sanitário visivelmente entrou em colapso.
E tudo ficou mais complicado coma infeliz coincidência da crise terminal venezuelana, causa da imigração para o Brasil de milhares de pessoas não imunizadas, em fuga da miséria, da fome e da violência política da ditadura bolivariana de Maduro.
O GLOBO acaba de publicar série de reportagens mostrando como a leishmaniose, hanseníase e outras doenças ganham força. Dado importante é que aumentou 11,2%, para 14,8 milhões, de 2016 a 2017, o número de pessoas em pobreza extrema.
É neste universo que os casos proliferam. Documento do Ministério da Saúde estima que 26 milhões de pessoas vivem sob o risco de contrair essas males negligenciados. Com a crise, este contingente cresce.
Assim, deve-se ter consciência de que, por mais herméticos que venham a ser os debates eleitorais sobre o futuro da economia, eles tratarão, na verdade, do destino de milhões que passam provações e têm a saúde fragilizada pela ausência do poder público. Por falta de dinheiro e também devido à proverbial ineficiência do Estado.
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