- Blog do Noblat / Veja
Bravo, capitão!
O distinto povo, aqui e em toda parte, tem o direito de saber sobre todas as coisas que possam afetar o seu destino. Por quê? Ora, faça o favor! Porque numa democracia é assim. Porque o certo é que seja assim, e ponto final.
Os donos do poder, aqui e em toda parte, só querem que o povo saiba o que não os comprometa. Alguns até defendem a liberdade de imprensa de maneira enérgica, e a ela se opõem no escurinho dos gabinetes. São os mais perigosos.
Bolsonaro é sócio temporário do clube dos donos do poder. Deputado federal durante quase 30 anos, comportou-se no Congresso como um sindicalista militar mal sucedido. Eleito presidente por acidente, é tolerado no clube com restrições.
Mas embora esse não seja o seu propósito, Bolsonaro colabora de forma decisiva para que o distinto povo conheça um pouco mais as entranhas do exercício do poder. É o que de melhor tem feito nos últimos seis trepidantes e inesquecíveis meses.
O ex-capitão do Exército, dali removido porque um dia planejou detonar bombas em quartéis, governa em tempo real e diz o que lhe passa pela cabeça em tempo real, da maneira mais escancarada jamais vista por estas bandas e alhures. Que bom!
Sob esse aspecto, mas não só, lembra um pouco Lula. Uma vez, irritado com a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente, Lula disse que a morte de certos espécimes de peixes não deveria ser motivo para que se impedisse a construção de uma represa.
Na última sexta-feira, e ontem outra vez, Bolsonaro disse que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais contraria nossos interesses quando divulga dados sobre desmatamento. Afinal, a questão virou “uma psicose” para outros países, segundo ele.
Onde já se viu um presidente, ainda mais de um país que abriga a floresta conhecida como o pulmão da Terra, dizer coisa parecida para que todos os seus governados – e mais além – ouçam e meditem sobre suas palavras? Deveria ser elogiado!
Ele poderia agir às escondidas para que não se soubesse que o desmatamento no mês passado foi muito superior ao registrado em junho de 2018. E que no mês em curso cresce a galope. Mas, não. Alardeia sua intenção nefasta. Alvíssaras!
Acusado de falta de patriotismo por um general que é membro da Comissão de Anistia do governo, Bolsonaro, que detesta ouvir falar de anistia e que dos militares só espera obediência, chamou o general de aliado do Partido Comunista do Brasil.
Comunista, portanto, é todo aquele que ousa censurar o capitão, não importa se civil ou militar. Os insatisfeitos deveriam proceder como grupos de índios ameaçados de extinção: embrenhem-se nas matas. Se não, silenciem para sobreviver.
Foi um microfone, aberto antes do tempo, o meio pelo qual se soube que Bolsonaro orientou o chefe de sua Casa Civil a boicotar o governador do Maranhão, escolhido por ele como seu principal adversário político pelo menos no momento.
Mas que importa que tenha sido por um microfone? Sem poder negar o que havia dito, Bolsonaro voltou a atacar o governador. No seu novo ataque, incluiu outro governador, o da Paraíba. Para não ficar tão mal com os nordestinos, irá à Bahia amanhã.
Para não ficar mal com os garimpeiros que o apoiaram, enviará ao Congresso um projeto de legalização dos atuais garimpos. São mais de 2 mil os garimpos ilegais só nas cercanias de Itaituba, no sul do Pará. O governo não tem como fiscalizá-los.
É ou não o presidente mais transparente que o Brasil já teve? E o mais empenhado em resgatar suas promessas de campanha por mais absurdas que tenham sido? Não desceu do palanque e não pretende descer. É candidato à reeleição desde já.
Ao cabo, Bolsonaro oferece sucessivas oportunidades para que o conheçam bem os que votaram nele por engano, ou porque desejavam acima de tudo derrotar o PT. Se repetirem o voto daqui a quatro anos é porque gostaram do que viram.
Mais um general na linha de tiro
Em perigo por seus acertos
Transparência, ou transparência em excesso, é algo que preocupa cada vez mais os que cercam o presidente Jair Bolsonaro, salvo honrosas exceções. Uma delas é o general Otávio Rego Barros, porta-voz da presidência da República, um militar competente e discreto.
Rego Barros convenceu Bolsonaro a receber jornalistas para cafés da manhã semanais. Ali, pode-se perguntar o que quiser e ouvir o que Bolsonaro queira dizer. Vez por outra ocorre algo inusitado, como um general esmurrar a mesa, furioso. Mas tudo bem. Segue o baile.
Para o porta-voz, a quebra de barreiras que separavam Bolsonaro dos jornalistas poderá custar-lhe o emprego. Rego Barros entrou na mira do garoto Carlos, o mais problemático dos filhos do presidente, sem desprezo ao outro metido em rolos financeiros.
Carlos não se conforma com o fato de não mandar na comunicação do governo do pai apesar de ter sido o melhor manipulador de redes sociais durante as eleições do ano passado. Um craque! Ao atacar Rego Barros, tenta recuperar o protagonismo perdido.
Acompanha Carlos o deputado Marcos Feliciano (PSC-SP), um pastor que aspira obsessivamente a condição de vice de Bolsonaro caso o presidente concorra à reeleição. Feliciano passou a atirar em Rego Barros como antes fazia com o general Hamilton Mourão.
Sempre que a dupla Carlos-Feliciano começa a disparar contra alguém é porque foi previamente autorizada por Bolsonaro a agir assim. Essa é uma das poucas certezas compartilhadas pelos que acompanham o governo de perto em Brasília.
Carlos pode ter perdido o controle sobre as senhas das páginas do pai nas redes sociais, mas ainda não perdeu a cabeça. Nem a sintonia com Bolsonaro. Às vezes, se antecipa aos desejos mais recônditos do pai. Na maioria das ocasiões, obedece às suas ordens.
Em mais uma soberba demonstração de transparência, Bolsonaro confessou outro dia que é adepto do método de fritar em público auxiliares que se tornaram incômodos para só depois demiti-los, muitas vezes com humilhação. Ou seja: a tortura precede a morte.
Faz sentido. Cuide-se o general.
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