- O Globo
A estratégia de um governo em que a ignorância se orgulha de si mesma é a desqualificação de quem ele identifica como inimigos. Os mais perigosos são os fatos e os números. Toma como alvo as instituições produtoras de ciência como a Fiocruz e o IBGE. Recheado de quadros incompetentes, ele ataca centros de excelência.
O exemplo mais recente é o insulto ao Itamaraty, o episódio do preenchimento do posto mais importante da carreira diplomática, a embaixada nos Estados Unidos.
A destruição do Itamaraty não se limita à desmoralização do posto de embaixador com a proposta tão absurda quanto irresponsável de nomear o filho do presidente para a embaixada em Washington. Seria apenas um vexame internacional, uma falta a mais de decoro, não fossem os riscos de alinhamento irrefletido e incondicional com políticas insensatas do presidente Trump do tipo invadir a Venezuela ou atacar o Irã.
Essa nomeação é mais um episódio desta alucinada política externa, que começou com o desmonte da agenda ambiental da qual o Brasil já foi líder global e hoje não é sequer um interlocutor confiável.
Negar a gravidade da questão ambiental é mais uma façanha da ignorância que se pavoneia. Assinar o Acordo entre Mercosul e União Europeia é uma abertura para o mundo que não rima com atraso. Não por acaso, o governo foi forçado a desistir da ameaça de deixar o Acordo de Paris.
Diante do evidente agravamento da mudança climática, o mundo se mobiliza, o que explica o forte avanço dos Verdes nas eleições europeias. Alemanha e Noruega nos apoiam na preservação da Amazônia. Foram desqualificadas.
No Conselho de Direitos Humanos da ONU voltamos à Idade Média. O Brasil se juntou à Arábia Saudita, Bahrein e Paquistão em várias votações sobre direitos das mulheres em matéria de saúde e sexualidade. Nesse ritmo, chegaremos em breve à Idade da Pedra.
Nosso lugar não é na contramão do mundo contemporâneo. A política externa envergonha o Brasil. Atacar a ciência e desmoralizar a competência é o suicídio de uma nação.
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