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Outra derrota dos militares
O presidente Jair Bolsonaro jamais decepciona seus devotos nem seus adversários. Os militares empregados no governo não podem ser confundidos com os devotos. E foram eles mais uma vez que perderam para a dupla formada por Bolsonaro e o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho a disputa pela escolha do novo ministro da Educação.
Os militares apoiariam qualquer nome que não fosse o de um discípulo de Olavo. Querem distância do guru da família Bolsonaro. Ele os ataca com virulência nas redes sociais e tenta afastá-los do presidente da República. De resto, acham que Olavo faz mal ao governo com suas ideias delirantes e confusas. Pois bem: Olavo os derrotou novamente.
Foi do falso astrólogo travestido de filósofo a indicação para o Ministério da Educação do professor Ricardo Vélez Rodríguez, com quem se desentenderia depois. Foi de Olavo, em aliança com os garotos Bolsonaro, a indicação para o lugar de Rodríguez de Abraham Weintraub. Os militares queriam um nome técnico e com boa reputação entre educadores. Weintraub está longe disso.
Carece de experiência em gestão pública. Não é um formulador de políticas públicas para a educação básica. Seu foco está no ensino superior e no combate à ideologia marxista. Em cinco anos como professor Universidade Federal de São Paulo produziu apenas quarto artigos, todos publicados em revistas de baixo prestígio científico. Em uma delas, seu irmão Arthur era o editor-adjunto.
No final do segundo governo de Lula, em artigo publicado no jornal Valor Econômico, Weintraub revelou-se otimista com o futuro do país. Frustrou-se com o governo Dilma. Ele e o irmão aderiram então à campanha de Bolsonaro no segundo semestre de 2017. Arthur é hoje assessor do presidente. Até ontem, Weintraub era o número 2 na Casa Civil.
Em setembro do ano passado, em diálogo com um candidato a deputado federal por São Paulo, Weintraub expôs uma de suas ideias preconceituosas:
“Em vez de as universidades do Nordeste ficarem aí fazendo sociologia, fazendo filosofia no agreste, [devem] fazer agronomia, em parceria com Israel. Acabar com esse ódio de Israel.” Bolsonaro gostou do que ouviu.
Na mesma ocasião, apresentou o que disse serem os dois pilares do plano de governo de Bolsonaro: “a lógica greco-romana” e “os valores judaico-cristãos”. E comentou: “Quando a gente fala na lógica greco-romana, parece uma coisa meio óbvia: ‘Ué, todo mundo aceita a lógica greco-romana’. Não! Não o PT, o pessoal lá, os bolivarianos, o pessoal na universidade”.
Em dezembro último, na 1ª Cúpula Conservadora das Américas, evento organizado pelo garoto Eduardo, os irmãos Weintraub fizeram uma palestra. “Socialista é a Aids. Comunista é a doença socialista”, disse Arthur.
Weintraub exaltou o pensamento de Olavo, atacou o comunismo e xingou uma professora da Universidade de Harvard que depois seria indicada para ministra da Corte Suprema.
Weintraub no Ministério da Educação será um prato cheio para os que sonham à esquerda com a ressurreição do movimento estudantil, apagado desde que se atrelou aos governos do PT. Não haverá a menor chance de o novo ministro tocar adiante o que pensa sem acender o rastilho de um barril de pólvora que por ora está adormecido. Bolsonaro tudo faz para inviabilizar seu governo.
Fake news da fake news
O empenho de Bolsonaro em desacreditar os jornalistas
Na noite de 27 de março último, em sua conta no Twitter, o presidente Jair Bolsonaro chamou de fake news a notícia dada minutos antes por Eliane Cantanhede, comentarista da GloboNews, de que ele havia decidido demitir o ministro da Educação Ricardo Vélez Rodríguez.
Bolsonaro postou: “Sofro fake news diárias como esse caso da “demissão” do Ministro Velez. A mídia cria narrativas de que NÃO GOVERNO, SOU ATRAPALHADO, etc. Você sabe quem quer nos desgastar para se criar uma ação definitiva contra meu mandato no futuro. Nosso compromisso é com você, com o Brasil.”
Ilustrou o post com uma foto de Eliane. E no dia seguinte saiu em defesa de Vélez a quem apontou como “novo no assunto”. Ontem, poucas horas depois de demitir o ministro, Bolsonaro disse em entrevista à Rádio Jovem Pan que Vélez era competente, e que seu único problema “foi de gestão”.
Ao vereador Carlos Bolsonaro atribui-se a maioria das fake news divulgadas nas redes sociais da família. Talvez seja mais uma injustiça que se comete com o pai dele.
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