- Folha de S. Paulo
Pessoas sem nenhuma competência são loteadas em cargos importantes
Que a educação não seria um ponto forte do governo Bolsonaro era mais do que evidente desde a campanha. Poucos imaginavam, contudo, o tamanho do desastre, que é o resultado de duas causas: a incompetência técnica do ex-ministro e sua equipe; e a guerra que instaurou dentro do ministério.
Ricardo Vélez Rodríguez é um intelectual de direita. Não tem nenhuma experiência com gestão pública nem conhece a realidade e os desafios da educação brasileira. Sua única credencial para o cargo foi ter sido indicado por Olavo de Carvalho. Suas únicas agendas eram pautas simbólicas como defender a ditadura militar e executar o Hino Nacional nas escolas.
Além disso, talvez pela fraqueza de sua liderança, o ministério se tornou um campo de guerra das duas principais alas do governo: o núcleo olavista (encabeçado pelo chanceler, pelo assessor do presidente Filipe Martins e pelos filhos Carlos e Eduardo Bolsonaro) e o militar. Esse conflito, que resultou em repetidas desonerações, travou o ministério. Quase nada saía de lá; e o que saía era tão ruim (a circular para as escolas, a decisão de não medir a alfabetização das crianças) que precisava ser imediatamente cancelado.
Essa é a sina de todo projeto ou instituição que tenha o azar de se aproximar de Olavo de Carvalho: envolver-se numa espiral de intrigas, brigas internas, acusações de traição e rompimentos. Olavo, que foi quem indicou Vélez, passou a acusá-lo.
O presidente não aprendeu a lição e já nomeou um novo olavista para o cargo, de quem Olavo já cobrou inclusive que recontrate todas as sumidades que Vélez Rodríguez nomeara e demitira pouco tempo antes.
Abraham Weintraub é outro que está no governo única e exclusivamente por afinidade ideológica e que carece de proximidade com a área da educação. Se se mostrar um líder mais forte que Vélez, poderá trocar a inoperância pelo movimento na direção errada: aparelhar o ministério e tocar sua agenda de combate "aos comunistas", antagonizar professores e promover a doutrinação oficial em sala de aula. Quem pagará o preço dessa brincadeira serão jovens e crianças brasileiros.
Vejo apoiadores do governo repetirem o discurso reconfortante de que a ascendência dos militares e dos ministros sérios (Sergio Moro, Paulo Guedes) sobre o presidente acabará por se impor e o núcleo olavista será ou varrido ou tornado irrelevante.
Na prática, contudo, o grupo tem conseguido vitórias em alguns conflitos com outras pastas. Olavo xingou abertamente o vice-presidente e um ministro (o general Santos Cruz) e mesmo assim se sentou à direita do presidente no jantar em Washington. Foi a pressão do núcleo olavista que levou Bolsonaro a desautorizar o ministro Moro na nomeação de Ilona Szabó. E agora, mesmo com o fracasso retumbante do MEC olavista, a pasta é reconduzida ao mesmo grupo.
Por algum motivo insondável, o presidente é incapaz de se desligar de um núcleo que, por qualquer métrica disponível, só lhe traz problemas.
A ação da militância agressiva nas redes sociais —o único ativo que os olavistas têm a oferecer— o está alienando da opinião pública geral. Sua popularidade está em queda. O tão sonhado povo nas ruas, disposto a tocar o terror para coagir Congresso e STF, não tem comparecido. Além disso, pessoas sem nenhuma competência são loteadas em cargos importantes, que previsivelmente entregam resultados péssimos.
Mesmo apoiadores sérios do governo só têm a lamentar. No Ministério da Pesca ou do Turismo seria cômico. No da Educação, é criminoso.
*Joel Pinheiro da Fonseca, economista, mestre em filosofia pela USP.
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