O enquadramento do bolsonarismo às leis deveria levar o presidente a tratar dos problemas efetivos do país
Bolsonaro, família e seguidores vinham num crescendo de ameaças até que o Judiciário, que opera em outro ritmo, fez movimentos que começaram a fixar limites a devaneios políticos autoritários. Mandados de busca e apreensão determinados pelo juiz Alexandre de Moraes, do Supremo, no inquérito das manifestações antidemocráticas, alcançaram 11 parlamentares bolsonaristas e alguns empresários ligados ao grupo. Funcionaram como uma advertência a quem considera estar fora do alcance da lei porque Jair Bolsonaro se encontra no Planalto e mora no Alvorada.
Um outro inquérito, também com Moraes à frente, sobre a produção de fake news e ataques ao Supremo e a seus juízes, teve a sua constitucionalidade referendada pela Corte, ao mesmo tempo em que o habeas corpus impetrado pelo próprio ministro da Justiça, André Mendonça, um ineditismo, para a retirada do ainda ministro da Educação, Abraham Weintraub, deste caso, não foi aceito.
Weintraub continua sendo investigado devido à agressão que fez aos ministros do Supremo, na reunião ministerial de 22 de abril, ameaçando-os de prisão e chamando-os de “vagabundos”. Talvez considerasse estar longe do alcance da Constituição por se encontrar em uma sala do Planalto.
A desastrosa passagem de Weintraub pelo MEC, um posto estratégico devido aos problemas graves do Brasil na educação, deveria levar Bolsonaro a não nomear militantes para cargos que exigem conhecimentos técnicos.
Em mais choques do bolsonarismo com a realidade, a extremista Sara Giromini e outros cinco envolvidos em atos criminosos antidemocráticos — um deles, o bombardeio do STF com fogos de artifício — foram presos e, afinal, em uma operação do Ministério Público do Rio, apoiada pela Polícia Civil de São Paulo, Fabrício Queiroz, amigo dos Bolsonaro, terminou sendo encontrado escondido em um imóvel em Atibaia, perto de São Paulo, de propriedade do advogado do presidente, Frederick Wassef.
Bolsonaro se recolheu, e a intensidade de suas redes sociais caiu. Agora, o presidente deveria tratar de governar, arregaçar as mangas e dar expedientes no Planalto para acompanhar o seu governo. Ele demonstra não se dedicar como deveria à agenda real do Brasil. Quantas reuniões de trabalho com ministros são realizadas? Quantos despachos têm sido feitos para tratar da volta do país à normalidade? Com a epidemia não houve cuidado, por desinteresse ideológico e insensibilidade humanitária.
Se esta agenda de trabalho existe, ela precisa ser divulgada. Daria pelo menos alguma satisfação à população, que, em sua grande maioria, espera que o presidente tenha sido eleito, mesmo que não haja votado nele, para tentar resolver problemas dela, não com o objetivo de executar um projeto delirante de poder.
Nenhum comentário:
Postar um comentário