- Folha de S. Paulo
Ir preso é garantia de sucesso nas urnas
Quanto mais atos infames e criminosos, melhor. É assim que certos grupos —todos, incrivelmente, são ou já estiveram ligados a Bolsonaro— fazem política no Brasil. Fugido do governo, pode apostar que o jagunço Weintraub virou candidatíssimo.
Ir preso, de preferência do modo mais midiático possível, é garantia de sucesso nas urnas. Afinal, você pode apelar aos tribunais para fugir da cana dura, não importa se minutos antes estivesse jogando fogos de artifício no STF. O mesmo vale para o empresário que, depois de financiar a fábrica de mentiras que nega a gravidade da pandemia, fica indignado porque agentes da PF entraram em sua casa sem tirar os sapatos, desobedecendo as recomendações sanitárias.
Bolsonaro deu o pontapé inicial na práxis abjeta. Ao lançar a pedra de sua candidatura à Presidência, num movimento calculado para medir até que ponto poderia avançar, aproveitou a fogueira do impeachment de Dilma e declarou o voto “pela família e pela inocência das crianças” e “pela memória do coronel Brilhante Ustra”, catalogado torturador da ditadura militar e condenado pela Justiça.
Muitos fizeram cara de paisagem. No Rio, uma foto mudou a sorte de três aventureiros. Nela, eles apareciam rasgando uma placa em homenagem a Marielle Franco e dando risadas. Apesar de repugnante, a imagem rendeu os votos necessários para a eleição de Wilson Witzel, governador que se prepara para tirar férias em Bangu; de Rodrigo Amorim, deputado estadual acusado de embolsar dinheiro público; e de Daniel Silveira, deputado federal que é alvo do inquérito que apura atos antidemocráticos.
Presidente há um ano e meio, Bolsonaro, o amigo do Queiroz, se envilece a cada dia; com ele, o país. Quando se procurar uma bela paisagem para fingir que o problema não existe, aqui será território de milícia, região devastada, enorme cemitério.
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