Governo
precisa criar programas para que a população tenha empregos para sair da
invisibilidade
Meu
bom e velho amigo Joca nos convidou para passar um fim de semana em sua casa,
no meio do mato. Como eu e Renata somos agora só nós dois, e o netinho lindo,
de 1 ano e meio, que podia nos ocupar um pouco, mal vemos (a mãe tem um medo
que se pela do coronavírus), foi fácil aceitar o convite do Joca.
Joca
mora numa borda da Mata Atlântica, de onde se podem ver tucanos, estranhas
borboletas, maracanãs e maritacas, pequenas fauna e flora que parecem estar
sempre renascendo. Podem-se observar macaquinhos, parece que pregos, bravos
remanescentes da Mata Atlântica, planejando invadir a casa, em busca de
alimento mais fácil. Aposto que, se os outros animais do planeta tivessem as
mesmas virtudes de organização que temos, praticariam sem dúvida a mesma
política de extermínio que praticamos, eliminando o que incomoda e atrapalha
nossos planos materiais. Escrevemos lindos poemas diante do vasto oceano, mas
não abrimos mão da peixada com frutos do mar, no almoço do Joca.
O
melhor amigo da onça não pode ser um leão. O jacaré pode até se aproximar do
papagaio, mas será sempre por disfarçado projeto de devorá-lo. Que eu saiba,
nenhum animal possui animal de estimação, como temos cães ou gatos que criamos
e cuidamos. Podemos ter, mesmo preso na gaiola, um rouxinol de estimação. Mas,
se um gato tentar experiência parecida, terminará comendo o passarinho. Os
bichos andam sempre em grupos homogêneos, sem a participação indesejável dos
diferentes em seus passeios e programas.
Foi
o ser humano que inventou a solidariedade, como reconhecimento e proteção do
outro. Em certos casos, até já avançamos moralmente mais um pouco, reinventando
o elogio da mistura, como consciência de que somos um só em nossas diferenças.
Inventamos
a solidariedade e somente nós a praticamos sobre a face da Terra. Se não a
praticássemos, a natureza se reduziria a uma constante guerra entre todos, pelo
melhor abrigo e alimento, pela melhor companhia. E Joca completou, de passagem
por ali: “Estaríamos condenados à guerra sem fim, à qual direita e esquerda
convencionais já nos querem condenar como inevitável”. Por que temos que nos
submeter ao mal natural, se podemos inventar outro mundo, a partir de um pensamento
solidário?
O
governo criou auxílio emergencial para as verdadeiras vítimas da crise
sanitária. Uma colaboração sem princípios, mas bem-vinda, para milhões de
“invisíveis” que perderam ou já não tinham renda, que sempre morrem de fome
independentemente do momento social que o país vive. “Invisíveis” são os
brasileiros que andam em desespero por periferias e favelas, mas nem tomamos
conhecimento de que existem. Não saberemos nunca quantos são; mas, apesar de
sua distribuição imperfeita, o auxílio emergencial os alcançou, e mais de 15
milhões deixaram a linha de pobreza e fizeram a classe C, a classe média baixa,
chegar a 63% da população brasileira. Com R$ 600 por pessoa, o governo
conseguiu um feito que melhorou a imagem do presidente e sua expectativa para
as eleições de 2022. Saiu até barato.
Não
sabemos, e o governo ainda não nos contou, o que acontecerá em seguida. Ninguém
pode ser contra atitudes assistencialistas necessárias, como a Renda Cidadã
deste governo e o Bolsa Família, criado e alimentado por governos do PT. São um
socorro a quem precisa e não tem de onde tirar. Mas o governo, qualquer
governo, precisa criar programas para que a população tenha uma oferta de
empregos para sair da invisibilidade e não precisar mais se angustiar com esmolas
de emergência.
Isso
pode ser conseguido por meio de estímulos a investimentos privados, que gerarão
mais progresso e mais empregos. Ou do próprio Estado, na criação de novas
empresas públicas, conforme as necessidades do país. Diante da segunda
hipótese, Joca, que era um craque “científico” na época da faculdade, riu de
mim e me chamou de “keynesiano tardio”, tenho a impressão que uma forma
elegante de considerar abjeta essa hipótese. Não acho, mas deixa pra lá.
Como diz a nova e bela encíclica do Papa Francisco, “sejamos capazes de reagir com um novo compromisso de fraternidade e amizade social que não se limite a palavras”. Sobretudo porque precisamos estar bem vivos e cada vez mais juntos, para ajudar na eleição de nossos sonhos, em 2022. A do youtuber Felipe Neto.
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