“Estivemos imersos por longas décadas a partir
do Estado Novo nos temas e nas políticas de modernização, ora em versões
autocráticas, dominantes no período, ora em versões brandas, mas nenhuma delas
renegou o papel da esfera pública na perseguição dos seus fins. No governo que
aí está, pela primeira vez em nossa história política republicana, ela é
concebida em pura chave de mercado. Para o argumento neoliberal dos atuais
governantes, por modernização entende-se a destituição do público e das suas
instituições a fim de deixar terreno livre para o aprofundamento irrestrito da
expansão do capitalismo, seja no mundo agrário, no urbano, onde quer que se
identifique uma fronteira propícia à acumulação de capitais, como nos resorts
do litoral ou mesmo nos cassinos, objeto de desejo do nosso patético ministro
da Fazenda. Na esteira de Thatcher, Reagan e Trump, para Bolsonaro não existe
essa coisa de sociedade.
Essa
construção ideal é exótica às nossas tradições, mesmo nas de raiz conservadora,
ela está aí por um acidente de caminho, cujas sequelas começamos a reparar,
passo a passo, como nas atuais eleições.”
*Luiz Werneck Vianna, sociólogo, Puc-Rio. “Retomar o fio da meada”. Blog Democracia Política e novo Reformismo, 8/10/2020
Um comentário:
Por outro lado, Werneck, o grande sucesso do agro brasileiro se deve - indubitavelmente - aos 150 anos de pesquisas de nossos institutos e escolas públicas. É fácil, hoje, apregoar a tal da prodigalidade da livre iniciativa, contando-se com esse lastro científico e tecnológico, bem como com o dinheiro fácil do Banco do Brasil, da CEF e do BNDES.
Abçs e parabéns pelo artigo.
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