Sociedade
com o vírus pouco custou ao presidente até agora
Morreram
quase 187 mil pessoas? Mais de 7 milhões foram infectadas? E daí? Quem tiver
que morrer, morrerá. A pandemia só chegará ao fim depois que o vírus contaminar
mais de 75% da população. É assim que o presidente Jair Bolsonaro sempre pensou
desde quando o então ministro Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, o pressionava
para combater a pandemia. E assim será.
O governo
não tem pressa em comprar vacinas. Ou melhor: gastar com vacinas, seringas,
agulhas. Foi o próprio presidente da República quem o disse numa conversa com
seu filho Eduardo, o Zero Três, deputado federal, lobista de empresas
americanas de armas, o embaixador do Brasil em Washington que tentou ser, mas
deu ruim. A natureza de Bolsonaro não mudou nem mudará.
Só
tirou Abraham Weintraub do Ministério da Educação porque se sentiu ameaçado por
um processo de impeachment. Weintraub havia sugerido a prisão dos ministros do
Supremo Tribunal Federal, “esses vagabundos”. Como prêmio de consolação, ganhou
uma diretoria do Banco Mundial nos Estados Unidos. Salário em dólar. Aí começou
a farsa de que Bolsonaro iria trocar de pele.
Dizia-se que, assustado, ele aprendera a respeitar a Justiça e o Congresso, escolhera o diálogo como principal instrumento de governo e decidira compartilhar o poder com os partidos. Tudo como fizeram seus antecessores. Finalmente, um presidente normal, e não um destruidor do sistema como ele se pretendia. A democracia estava salva. Aleluia, irmãos! Deus é pai!
Mas
no final de maio último, Fabrício Queiroz, amigo há 40 anos de
Bolsonaro, designado por ele para tutelar Flávio, o Zero Um, na Assembleia
Legislativa do Rio, foi descoberto e preso numa casa no interior de São Paulo
do advogado Frederick Wassef. Advogado de quem? Ora, de Flávio e do seu pai,
embora os dois jurem de mãos postas que jamais souberam que Wassef escondia
Queiroz.
Então
o presidente normal ou normalizado reuniu ministros militares e anunciou que
estava disposto a fechar o Supremo Tribunal Federal. Para tanto, talvez
bastasse um cabo e dois soldados como Eduardo sugeriu. Não houve golpe porque,
consultados, os chefes das Forças Armadas tiraram os deles das seringas. É
no que dá ser um país de maricas…
Até
o momento, não há plano estratégico do Ministério da Saúde para o enfrentamento
da segunda fase da pandemia do coronavírus, concluiu uma auditoria feita pelo
Tribunal de Contas da União e apresentada no dia 8 deste mês. Falta a entrega
de equipamentos de proteção individual, respiradores, kits de testes e sobram
irregularidades em contratos assinados.
Não
haverá vacina para todo mundo como Bolsonaro tem prazer de repetir.
Estados Unidos e Inglaterra já começaram a vacinar. Chile e Colômbia começarão
a vacinar em janeiro. A Índia prevê que terá vacinado 300 milhões de pessoas
até agosto. É mais gente do que há por aqui. Bolsonaro tem 20 bilhões de reais
para arcar com tudo isso, mas prefere pôr em dúvida a eficácia das vacinas.
Em
poucos dias, 59 milhões de brasileiros deixarão de ter direito ao auxílio
emergencial criado para atenuar os efeitos da pandemia. Isso quer dizer que,
dos 68 milhões que receberam o auxílio de abril para cá, apenas os 19 milhões
inscritos no programa Bolsa Família continuarão a contar com alguma ajuda do
governo. Sem o benefício, 24 milhões de brasileiros voltarão à pobreza extrema.
E
daí? E daí que Bolsonaro está pouco ligando porque para ele vidas pouco
importam. Está mais preocupado em eleger os próximos presidentes da Câmara dos
Deputados e do Senado para poder aprovar, ali, propostas que lhe assegurem o
apoio da parcela dos brasileiros, estimada em mais de 50%, que o isenta de
responsabilidade pelas mortes que o vírus provocou.
Uma vez que preserve o apoio da metade dessa parcela, terá lugar garantido no segundo turno da eleição presidencial de 2022. E aí seja o que Deus quiser.
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