Iniciado o governo do atual Presidente, com elevada
participação de militares, um sobressalto tomou conta da mídia, formadores de
opinião, organizações da sociedade civil e órgãos de controle: estaria em
marcha um golpe? As falas do Presidente, seus apoiadores e algumas declarações
de ministros de origem militar despertavam suspeitas.
Sempre que pude, divergi dessa possibilidade.
Primeiro, porque generais da reserva em postos do Executivo, não falam
pelas Forças Armadas e imaginar o contrário revela ignorância dos códigos e
conduta das Forças Armadas na atualidade. Em segundo lugar, porque sabíamos por
experiência e conhecimento dos atuais e ex-comandantes das Forças e respectivos
Altos Comandos, que a possibilidade de descumprir a Constituição era algo fora
de cogitação.
Certamente, o “presidencialismo de colisão” adotado pelo presidente, constrangendo e pressionando o Congresso e o Supremo Tribunal Federal com a ameaça da invocação das massas e o poder da espada, que estariam ao seu lado, dava corda a interpretações de que um projeto autoritário estaria em curso.
Ao cabo de um ano e meio de governo, restou
cabalmente comprovado que o modus operandi da “colisão” não
dobraria o parlamento, nem a suprema corte. Processos rondavam a família
presidencial, o inquérito do “fim do mundo” apontava conexões entre o
bolsonarismo raiz e as fake news – e a pandemia, com suas
repercussões imprevisíveis e a sombra de um impeachment, ainda que
distante, rondavam o planalto.
Em 17 de junho de 2020, Fabrício Queiroz é preso na
casa de Fred Wassef e o governo de “colisão” principia rapidamente a mudar,
sendo o seu símbolo o acordo com o Centrão na Câmara dos Deputados. Daí em
diante o governo irá se assemelhar mais e mais a governos anteriores, até certo
ponto.
Militares no Executivo silenciam e um
presidencialismo de coalizão progressivamente vai tomando as rédeas políticas.
Com a conquista das presidências das casas do Congresso, um Procurador Geral
amigável e um pé no STF (em junho serão dois), além da impossibilidade de manifestações
dada a pandemia, o impeachment, salvo a ocorrência de um “cisne
negro,” está conjurado.
O presidente Jair Bolsonaro e seu ministro Paulo
Guedes têm uma chance real de tocar as reformas e manter o auxílio emergencial,
em que pese a conjuntura econômica e social complexa e difícil pela frente.
*Raul Jungmann - ex-deputado federal, foi Ministro do Desenvolvimento Agrário e Ministro Extraordinário de Política Fundiária do governo FHC, Ministro da Defesa e Ministro Extraordinário da Segurança Pública do governo Michel Temer.
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