O Globo
O empresário Guilherme Leal cita dois
números que dão uma noção do que o Brasil deixa de ganhar na economia da
floresta. “O mercado de produtos florestais atinge a casa de US$ 180 bilhões
por ano e o Brasil tem apenas 0,5% dele”. O país se prepara para a reunião de
Glasgow. A sociedade se organiza em alianças entre empresários, ambientalistas
e especialistas de áreas diversas para ter uma presença forte na COP 26.
Governadores amazônicos estavam reunidos ontem em Belém no Fórum Mundial de
Bioeconomia. O governo federal errou muito em 2019 e agora dá alguns sinais de
que mudará sua desastrosa posição. Um agente dessa mudança de posição é o
presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
Todos os empresários com quem falei nos
últimos dias afirmam que o Brasil tem que estar preparado para os debates. Esta
reunião do clima é estratégica porque vai definir o Manual de Regras do artigo
sexto do Acordo de Paris, que estrutura o mercado de carbono. Algumas pessoas
no governo têm a noção da importância da reunião. No Banco Central eu ouvi o
seguinte:
–O Brasil precisa chegar à COP com três coisas: plano de desmatamento com percentual factível de redução até zerar, o ‘race to zero’, e como pretende colocar as empresas nisso; um documento crível de mercado voluntário e metas de mercado obrigatório em dois ou três anos. Se chegar com isso, sairá com relativo sucesso.
O empresário Guilherme Leal disse, em
entrevista que me concedeu na Globonews, que em 2019 a delegação brasileira
criou obstáculos à regulamentação do mercado de carbono e que é do maior
interesse do Brasil que haja um mercado regulado.
–A gente espera e torce por uma nova
atitude do governo. E tem indicações de que o governo será mais positivo nessa
COP 26. O mercado de carbono é importante, mas a floresta é muito mais do que
carbono. A floresta é de uma riqueza fantástica. E o Brasil pode ter muito mais
vantagens na economia dos produtos florestais — disse Leal.
O empresário define com adjetivos fortes o
que é o garimpo: “invasivo, destrutivo, poluidor e que contamina nossas águas”.
Defende que continue a demarcação de terras indígenas. Ele disse que estudos
dos últimos 36 anos mostram que as populações tradicionais têm sido “guardiãs
da floresta”.
O governo do Pará está recebendo até
quarta-feira o Fórum Mundial de Biodiversidade que, pela primeira vez, se reúne
fora da Finlândia. Uma das mobilizações interessantes é a dos governadores da
Amazônia que, apesar das diferenças políticas têm se unido e tentado canais de
diálogo com outros países e organizações na questão da mudança climática e
proteção da biodiversidade.
Outra mobilização que acontece é a de
ambientalistas, empresários, pesquisadores de áreas diferentes em iniciativas
como a Concertação pela Amazônia, organizada pelo empresário Guilherme Leal. O
que a gente ouve de todos eles é que o Brasil só tem a ganhar se reduzir o
desmatamento da Amazônia, voltar a ter protagonismo nas negociações climáticas
e desenvolver a bioeconomia, a Amazônia 4.0, nos moldes defendidos pelo
cientista Carlos Nobre.
Todos os governos dos estados amazônicos
foram para Belém ontem para o encontro que tem cientistas, economistas,
banqueiros, empresários do agronegócio e representantes de diversos países.
Perguntei ao governador Helder Barbalho como havia sido a negociação para que o
evento acontecesse pela primeira vez fora da Finlândia.
– Isso é um trabalho de 25 meses, mas quem
deu o primeiro passo foi o Marcello Brito da Associação Brasileira do Agronegócio.
Ele vai todo ano e propôs que fosse feito no Brasil. No evento, o governo do
Pará criou uma unidade de conservação, lançou um edital para concessões de
florestas para crédito de carbono e uma linha de crédito para projetos de
conservação.
A alternativa à proteção da floresta é a
derrota, explica Guilherme Leal.
–Nós sabemos que a economia do desmatamento
é efêmera. Ela passa e depois cria vazios. Deixa o nada atrás de si e vai abrir
novas fronteiras. Precisamos acabar com essa lógica — disse.
No Brasil há uma fratura. A sociedade cria
coalizões e avança na direção certa. O governo Bolsonaro com uma visão estúpida
atrapalha o país. Dentro do governo alguns poucos tentam evitar um novo fiasco.
Enquanto isso a floresta é derrubada, um pouco por dia.
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