Folha de S. Paulo
Não é preciso mais que uma rápida olhadela
em notícias recentes do Brasil para provar a frase
“Não
é um país sério”. A frase, cujo sujeito é o Brasil, teria sido dita por Charles
de Gaulle. Só que ele nunca a proferiu. A “fake news” diz respeito apenas à
autoria, porque, no conteúdo, não vejo como discordar da conclusão de que o
Brasil não é sério. E não é preciso mais que uma rápida olhadela em notícias
recentes para prová-lo.
O caso mais gritante é o de Jair Bolsonaro. A CPI levantou farta documentação de que suas ações e omissões resultaram em dezenas (talvez centenas) de milhares de mortes evitáveis. Ele também se pôs em repetidos flagrantes de democraticídio, que culminaram no 7 de Setembro. Não obstante, nem o Congresso nem a Procuradoria-Geral da República mexem uma palha para removê-lo do cargo, como ocorreria num país sério.
O governador de São Paulo, João Doria,
anunciou o retorno
imediato das aulas presenciais em caráter obrigatório para todos os
alunos das redes pública e privada, mas 75% das escolas estaduais só poderão
receber 100% dos estudantes em novembro, quando deixará de valer a exigência do
governo do estado de manter as carteiras a um metro de distância umas das
outras.
Ou bem Doria deveria ter antecipado o fim
do espaçamento mínimo, ou não deveria ter anunciado o retorno imediato. O
Brasil está entre os países que por mais tempo suspenderam as aulas
presenciais, só as retomando muito depois de reabrir bares, restaurantes e
shoppings, o que também é incompatível com qualquer definição de seriedade.
Por fim, o PT edita uma espécie de cartilha
em que tenta desvencilhar-se de acusações de corrupção. Lula fora condenado por
um juiz que não agiu com imparcialidade. Os julgamentos foram corretamente
anulados, o que dá a Lula o direito de proclamar-se inocente. Mas o partido já
adentra no reino na ficção quando sugere que não houve corrupção sistêmica na
Petrobras e nem
mesmo no mensalão. Ignorar os fatos não é coisa de gente séria.
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