Folha de S. Paulo
Eles podem ter seus defeitos, mas algo não
se pode negar: sabem ser amigos de seus amigos
De uma coisa os Bolsonaros sentirão saudade
quando deixarem o governo: da vida que levaram no poder —vida com que nunca
sonharam em seus tempos de deputados e vereadores de quinta, esnobados por seus
pares como toscos, grosseiros e cafonas. Nestes quase três anos desde que
Carlos Bolsonaro se plantou com os pés no assento do Rolls-Royce que levava seu
pai no desfile de posse, não houve um dia sem pândega e patuscada.
Já vai longe o tempo em que eles tinham de transferir 90% do salário de seus assessores para suas contas pessoais, o que lhes assegurou um belo patrimônio imobiliário. Mesmo a mansão milionária que Flávio Bolsonaro arrematou há pouco em Brasília deve ter resultado de fontes limpas, como empréstimos espontâneos e financiamentos a juros camaradas. É notável como as entidades privadas e particulares são atenciosas para com as pessoas no centro do poder —e nem sempre porque estas são liberais na distribuição de informações privilegiadas, mas por simpatia mesmo.
Os Bolsonaros podem ter seus defeitos, mas
sabem ser amigos dos amigos. O velho Bolsonaro, por exemplo, não se esquece dos
colegas de quartel —antes de ser expulso do Exército, claro— e mimoseia-os com
secretarias, ministérios e presidências de autarquias, tenham ou não afinidade
com a matéria.
Os meninos Bolsonaro fazem o mesmo com seus
colegas de academia, tiro ao alvo e condomínio —no mínimo, incorporam-nos às
suas festivas viagens ao exterior, nas quais, como se sabe, fecham-se grandes
negócios para o Brasil. A generosidade é contagiosa: a convite de qualquer
funcionário do 3º escalão, parentes, aspones e vadios cruzam hoje a todo
instante os céus do Brasil a bordo dos aviões da FAB.
Nada supera, no entanto, a generosidade com
que Jair Bolsonaro distribui o Tesouro Nacional entre os políticos de que
precisa para comprar sua reeleição. É como se o dinheiro fosse dele. Ou,
melhor, não fosse dele.
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