O Globo
Bolsonaro foi vítima de si mesmo no início
desastroso de sua campanha. Lula explora lembrança de seu governo para manter
vantagem sólida
A semana foi desastrosa para o presidente
Bolsonaro. Era a primeira da campanha oficial, e ele
ficou em isolamento institucional em frente do país, comportou-se como
um assaltante de celular, e as pesquisas eleitorais não trouxeram as
boas notícias que ele esperava. Por outro lado, o ex-presidente Lula tem usado
a sua poupança, ou seja, as lembranças dos “tempos do Lula”, para se manter
assim tão firme no coração dos mais pobres. Mas ele precisa ter programas que
sejam novos porque, se vencer, o país que herdará será bem diferente do de 20
anos atrás.
A pobreza aumentou e exigirá um programa social mais robusto, com engenharia social sofisticada e eficiente. Não bastará restaurar o nome Bolsa Família. A herança de bombas fiscais é perigosa. Um exemplo é o preço da gasolina. Imagine o primeiro dia de governo. De cara, o eleito teria que repor o PIS-Cofins e a Cide sobre os combustíveis e isso elevaria os preços. Se mantiver a isenção, quanto perderão os cofres públicos? Fiz essa pergunta a David Zylbersztajn e, junto com a equipe do Instituto de Energia da PUC, chegou-se à seguinte conclusão: levando-se em conta o consumo de 2021, de 118 bilhões de litros de diesel, gasolina e etanol, a perda seria de R$ 70 bilhões por ano. Lula vai escolher torrar R$ 70 bi subsidiando em grande parte a classe média ou focar nos mais pobres? As opções serão difíceis em 2023.
Bolsonaro foi vítima de si mesmo nos dois
episódios da semana passada. A estratégia bolsonarista de crescer nas redes
sempre foi através da cultura da lacração. Ele tem prazer em atacar jornalistas
com atitude agressiva, muitas vezes aos gritos, esperando alguma hesitação para
depois taxá-los de ignorantes. Isso resulta em vídeos, editados maldosamente,
que fazem a festa dos seus seguidores e ganham milhões de cliques. Foi assim em
2018, e na Presidência. O cercadinho é o ambiente dessa comunicação marginal do
presidente da República. Foi lá que saiu da boca de um youtuber de direita o
pior meme da campanha, o “tchutchuca do centrão”.
O outro constrangimento de Bolsonaro foi a
cena que já entrou para a história como a do maior flagrante do isolamento de
um presidente. Hirto, contrariado, ele foi visto cercado pela
institucionalidade brasileira, resistindo ainda ao sistema eleitoral. Tinha,
pingados na plateia, alguns apoiadores para seu protesto de não acompanhar as
palmas. O general Paulo Sérgio Nogueira, o ministro Nunes Marques, o filho
pregado na cadeira, e alguns ministros aduladores.
Bolsonaro escolheu jogar todas as energias
em falsos problemas. Combateu a máscara, a vacina, as medidas de emergência
sanitária, os governadores, a ciência, a cultura, os servidores que cumpriram
suas funções, a floresta, os indígenas e as urnas. Ofendeu mulheres, negros e a
comunidade LGBTQI+. Defendeu as armas, as corporações militares, o garimpo
ilegal e a cloroquina. Tentou abolir cadeirinha de criança nos carros e
eliminar pontos nas carteiras dos contraventores do trânsito. Atacou a urna
eletrônica como parte do projeto antidemocrático. No auditório do TSE, o Brasil
deu um ultimato ao presidente
O ex-presidente Lula, que estava na sua
frente naquele salão da Justiça, tem a comemorar vantagens na pesquisa. Muitos
números bons o embalam. Grande margem nos dois maiores colégios eleitorais do
país, São Paulo e Minas, e enorme diferença no Nordeste. Mas hoje ele vive
muito da memória afetiva dos anos Lula. Na primeira vez que chegou ao Planalto,
Lula encontrou o terreno arado. Se for eleito, não é o que encontrará. Ele está
sendo favorecido pelo seu capital político e pelos erros do adversário, mas
ainda precisa de um projeto novo do tamanho dos novos desafios.
Bolsonaro comemorou avanço no segmento
evangélico. No Datafolha, saiu de 43% para 49%. Se a análise do perfil do
eleitorado for feita com os dados do Ipec, a conclusão é a de que de cada 10
eleitores de Bolsonaro quatro são evangélicos. É natural que ele aposte no
segmento. O que a campanha não pode é praticar crime. Quando a mulher do
presidente, Michelle, diz que o Planalto estava consagrado aos demônios, está
cometendo calúnia e difamação. O bolsonarismo tem promovido a intolerância
religiosa e a manipulação dos símbolos da doutrina cristã. Isso não é
marketing, beira o terrorismo religioso.
O tempo pela frente é longo. Nunca um presidente disputou a reeleição em situação tão difícil.
Um comentário:
Michelle é tão abjeta quanto seu marido.A gente só casa com pessoas parecidas,o mesmo padrão moral e intelectual,como diz a doutrina espírita,é tudo uma questão de química-cósmica.
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