domingo, 21 de agosto de 2022

Eliane Cantanhêde - O poder da miséria na eleição

O Estado de S. Paulo

Quem é melhor para os pobres? Isso reflete nos recortes de renda, escolaridade, raça, região e idade

Num país imenso, complexo e profundamente desigual como o Brasil, um dos dados mais importantes das pesquisas é sobre como eleitores e eleitoras olham para os candidatos e percebem a vontade e a capacidade para combater a miséria, que é cruel com os pobres, perigosa para os ricos e imobiliza o desenvolvimento.

No último Datafolha, 54% dos entrevistados apontaram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e só 27%, o presidente Jair Bolsonaro (PL) como o mais preparado para combater a pobreza. Ou seja: o dobro deles vê Lula mais capaz de olhar para os pobres e melhorar a vida deles. A percepção é que, entre acertos e (muitos) erros, os dois governos Lula focaram a inclusão, contra a miséria e a desigualdade.

No caso de Bolsonaro, a percepção é de que ele não dá bola, até porque seus discursos, entrevistas e posts omitem palavras-chave, como “social”, “pobres” e “pretos”. Ele dirá que liberou bilhões para o auxílio emergencial na pandemia e aumentou o valor do Auxílio Brasil, ex-Bolsa Família, mas os eleitores intuem que não foi por vontade e prioridade, como atribuem a Lula, que sacolejou num pau de arara para sobreviver.

Os 54% de Lula, ante os 27% de Bolsonaro numa pergunta tão definidora ajudam a explicar vários recortes do Datafolha. Exemplo: 60% dos que se declaram pretos votam em Lula e só 19%, em Bolsonaro. Entre os pardos, dá 48% a 33% para o petista e, entre os brancos, há empate técnico: 40% para Lula, 38% para Bolsonaro. Alguma dúvida de que os pretos são mais pobres?

A resposta sobre a capacidade de combater a pobreza explica, também, a diferença no Nordeste, beneficiado por investimentos, obras e pelo próprio Bolsa Família nos anos Lula. Apesar de Bolsonaro ter crescido 7 pontos entre maio e agosto e Lula ter caído 5, dá 57% a 24% para o petista na região. Alguma dúvida de que grande parte do Nordeste vive na miséria?

Os outros recortes que têm tudo a ver com quem está mais preparado para combater a miséria são de renda e escolaridade, e Lula mantém vantagem sólida entre os que ganham até dois salários mínimos e são 52% de toda a população. Ele tem 55%, enquanto Bolsonaro subiu três pontos de maio a agosto, mas só chega a 23%.

A percepção sobre o melhor para cuidar da pobreza é também fortemente ligada à preferência da baixa escolaridade e interfere em outros recortes, como entre os jovens de 16 a 24 anos, mesmo nas faixas maiores de renda e escolaridade, porque são sensíveis ao drama da miséria e à defesa da democracia. Aliás, combate à miséria e defesa da democracia definem não só eleições, mas o caráter de uma Nação. •

 

2 comentários:

Anônimo disse...

Combate à miséria e empenho real pela Educação definem a essência dum candidato! Lula sempre se mostrou sensível a estes temas e desenvolveu políticas públicas que reconhecidamente melhoraram a situação da população brasileira. Isto é reconhecido por especialistas brasileiros e autoridades internacionais. Bolsonaro não demonstrou empenho em combater a miséria na primeira metade do seu governo, e deixou que ela crescesse muito antes de aprovar o novo Auxílio Família 2 meses antes da eleição. Quanto a Educação, Bolsonaro apostou tudo nas poucas escolas cívico-militares, onde os militares ganham como complementação salarial valores muito maiores que os salários integrais dos professores, e que mais tiveram problemas e denúncias que alguma efetiva melhoria nas condições educacionais dos alunos. A Educação só decaiu no governo Bolsonaro, mostrando que ele não tem preocupação e nem competência para promover as necessárias melhorias na Educação brasileira, e muito menos vontade de tentar fazer as mudanças que a sociedade espera. O futuro educacional de milhões de jovens brasileiros nunca foi motivo de preocupação para o miliciano mentiroso.

ADEMAR AMANCIO disse...

Os brancos da classe média adoram Bolsonaro,não todoss,claro.