Folha de S. Paulo
Caso Shein mostra que Haddad vai penar para
aumentar a arrecadação
Escrevi aqui há pouco que o governo teria dificuldades para fazer com que o Congresso reveja isenções tributárias e outras benesses dadas a certos grupos, condição necessária para que o novo arcabouço fiscal proposto pelo ministro Fernando Haddad funcione bem. Fui otimista. Os problemas para o governo começaram antes de as peças legislativas chegarem ao Congresso. Começaram com a Janja e outros próceres do PT, como vimos na novela das isenções para compras online.
Adultos sabem que, se desejarem comer uma
omelete, precisam renunciar à posse dos ovos. São os chamados imperativos da
realidade. Às vezes me pergunto se, no Brasil, nós, como sociedade, já
atingimos a maturidade ou permanecemos num estágio anterior a ela. É
perfeitamente possível, dentro das regras da democracia e da economia de
mercado, defender tanto um Estado enxuto, que ofereça só os serviços
indispensáveis para o seu funcionamento, como segurança e Justiça, quanto um
mais vistoso, que proveja um elenco mais generoso de benefícios, incluindo
saúde universal, ensino público em todos os níveis e sistemas previdenciários
inclusivos, para citar apenas alguns.
O país, para desgosto dos ultraliberais, já
deu repetidas mostras de que prefere o segundo tipo. De novo, é uma opção
legítima, mas, para exercê-la de forma adulta, precisamos nos conformar com uma
carga tributária mais alta. Que os setores taxados reclamem é do jogo. Que o
próprio governo se mostre incapaz de eleger uma linha de ação e nela permanecer
é sinal de falta de foco, para não dizer infantilidade.
Num mundo ideal, diminuiríamos a
necessidade de aumentar impostos eliminando isenções
difíceis de justificar em termos de equidade e trocando
programas ineficientes por outros melhores. Como não vivemos nesse mundo ideal,
meu palpite é que Haddad tentará usar a reforma
tributária para ajustar a carga. Resta saber se Janja e
o Congresso permitirão.
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