Toda viagem tem seus pontos fortes. Raízes gigantescas de árvores invadindo as ruínas de uma igreja do século XVII, que os jesuítas, premidos pelos índios, tiveram de abandonar às pressas. Tampouco me esqueço do Preto do Fumo, ervateiro louco que lia o medo nos olhos dos animais. Todo envolvido por folhas de tabaco, as quais usava como vestimenta, folhas essas que também cobriam o teto de sua casa, enquanto que as suas próprias paredes eram erguidas com essas mesmas folhas.
Alguém que “reverdeja dele mesmo” – e aqui recorro a um verso de Manoel de Barros, a propósito de um habitante do Pantanal mato-grossense. Impressionante. Ou como não recordar daquelas crianças que, à saída de uma igreja em Januária, nos desejavam ótimos sonhos, forma singela de dizer boa noite. Ali, na região do Velho Chico, não há como negar que o homem pertence à Natureza. Daí a sua beleza e força.
Dá para perceber com nitidez que, se o homem
age sobre a Natureza, ela também atua sobre ele. Não se trata, como advoga um
determinado ambientalismo distorcido, de simplesmente adequar o homem ao meio
natural: a relação é dialética, tem mão e contramão. Há uma passagem de
Friedrich Engels que me impressiona sempre que leio. Ela diz assim:
"A cada passo nos é lembrado que nós não dominamos a natureza como um conquistador domina um povo estrangeiro vencido, que não a dominamos como quem é estranho a ela, mas que nós lhe pertencemos com carne, sangue e cérebro e vivemos em seu seio. Todo o nosso domínio sobre a natureza consiste na capacidade, que nos eleva acima das outras criaturas, de conhecer suas leis e utilizá-las de modo mais apropriado."
*Historiador

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