Um ajuste fiscal profundo deveria mirar dois
objetivos centrais: i. produzir superávits primários relevantes que
contribuíssem para estancar o crescimento da DBGG (Dívida Bruta do Governo
Geral) como proporção do PIB, e, ii. ampliar substancialmente a capacidade de
investimento do governo central visando a superação dos gargalos de
infraestrutura e a imperiosa promoção de inovações científico- tecnológicas.
Nada mais distante da realidade atual marcada
por déficits primários efetivos recorrentes, desde 2014 – tendência essa
confirmada em 2025 – e pela redução dramática dos investimentos federais, comprimidos
pelo crescimento exponencial, automático e permanente das despesas
orçamentárias obrigatórias.
Toda e qualquer regra fiscal deveria cumprir
dois papéis fundamentais: disciplinar os gastos e ancorar expectativas. No
entanto, sucessivas mudanças têm sido introduzidas, o que tem contribuído para
abalar a credibilidade do arcabouço e alimentar incertezas sobre a
sustentabilidade do atual regime fiscal.
O novo regramento fiscal foi aprovado no
segundo semestre de 2023. Já em 2024, as metas foram rebaixadas. Em 2025,
vários abatimentos legais foram aprovados no limite de gastos e na apuração do
resultado primário. Estimamos que, nos três primeiros anos de vigência da LC
200/2023, despesas superiores a R$ 170 bilhões de reais serão excepcionalizadas
das regras fiscais. Soma-se a isso, o entendimento de que é cabível o governo
perseguir o limite inferior de tolerância previsto e não o centro da meta, o
que na prática representa um novo rebaixamento das metas.
De sua
parte, o governo, na impossibilidade de controlar a expansão das despesas, tem
procurado aumentar impostos ao longo dos últimos três anos. No entanto, essa
estratégia de ajuste fiscal esbarra no fato de o Brasil, hoje, ser líder em
carga tributária entre os países latino-americanos e emergentes, o que
cristalizou resistências na sociedade e no Congresso Nacional.
A desaceleração econômica, o comportamento das
contas do governo e a consequente expansão da dívida pública, revelam
inequivocamente a insustentabilidade do atual regime fiscal e suas regras e a
inevitabilidade de, mais cedo ou mais tarde, o país promover um ajuste fiscal
de maior fôlego, garantindo as bases de uma trajetória de desenvolvimento
sustentado combinado com equilíbrio fiscal.
Bom Natal! Feliz 2025!
Obs.: me ausentarei por 3 semanas, volto em 16/01/2026

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