domingo, 7 de outubro de 2012

Balão de ensaio para os confrontos de 2014


Apostas eleitorais de Lula, Dilma, Aécio e Eduardo Campos terão reflexo direto na distribuição de forças na disputa pelo Planalto

Amanda Almeida

Mais que definir o comando de 5,5 mil municípios, as eleições deste domingo servem de ensaio para os principais players políticos do país. De um lado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua sucessora, Dilma Rousseff, apostam todas as fichas em avançar sobre os grandes redutos da oposição, São Paulo e Minas, minando o prestígio dos adversários na próxima disputa presidencial. Também de olho em 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) faz força para garantir palanque em seu ninho político e arregimentar apoios Brasil afora. Já o governador Eduardo Campos (PSB-PE) busca independência do PT e musculatura para bancar projetos futuros. À margem de tudo isso, o eleitor e suas reivindicações imediatas.

Com a expectativa de manter o PT no Palácio do Planalto, Lula quer garantir palanque nos grandes colégios eleitorais em 2014. A aposta do ex-mandatário é vencer em São Paulo, que não é governada por petistas há oito anos e se tornou um reduto dos tucanos. Lula bancou a candidatura do ex-ministro Fernando Haddad, justificando-o como nome desconhecido e não assimilado ao PT, o que o credenciaria para superar a rejeição do eleitorado paulistano ao partido. “O risco dessa estratégia é o eleitor não ter tido tempo para conhecer Haddad e apostar no candidato”, avalia Rafael Cortez, doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP) e analista da Tendências Consultoria Integrada.

Se Lula adotou São Paulo, Dilma fez de Belo Horizonte sua prioridade. Mais que retomar a prefeitura comandada pelo PT por 16 anos, a vitória na capital mineira seria uma conquista política sobre um dos potenciais rivais em 2014. Vencer em BH afastaria Aécio de seu principal palanque, além de fazer o tucano amargar a derrota de uma eleição que tinha tudo para ser ganha. Dilma se mobilizou: ajudou na escolha do nome do ex-ministro Patrus Ananias (PT), garantiu o PMDB na chapa, gravou para a TV e fez na cidade um de seus dois únicos comícios neste pleito. O risco é de, afastado há anos da prefeitura e vendo o PT ser ligado ao mensalão, Patrus sair derrotado no primeiro turno pelo prefeito e candidato à reeleição Marcio Lacerda.

Na avaliação de Cortez, a disputa em São Paulo, abraçada por Lula, é também uma prioridade para Dilma e os dois, independentemente dos projetos pessoais, estão alinhados no projeto de estender a permanência do PT no poder. “O Lula tem um perfil partidário. É um homem político. A presidente tem um perfil diferente, além de um cargo que a limita na campanha. Mas eles estão caminhando juntos.”

Adversários 
De forma planejada ou não, a disputa em BH, além de aposta pessoal, acabou se tornando palanque para Aécio se posicionar para o eleitor como opositor ao governo federal. Nos últimos dias, o senador tem aproveitado eventos de campanha para disparar críticas à presidente. Reclamou de falta de recursos para obras federais no estado e chamou Dilma de “estrangeira”, em referência ao fato de ela ter construído carreira política no Rio Grande do Sul.

Com o rompimento entre os petistas e o PSB, Aécio viu a oportunidade de flertar com o partido do prefeito Marcio Lacerda e tentar atraí-lo como apoiador em 2014. Outra estratégia do tucano neste pleito é se tornar mais conhecido em outros estados. “Com o PT na disputa em BH, ele não fez tantas viagens como gostaria, mas rodou bem. Aécio ainda precisa se apresentar em outras regiões do Brasil”, diz um correligionário.

Incógnita 
As pretensões do governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, ainda são dúvidas entre os próprios colegas de partido. “Ao mesmo tempo em que o racha com o PT em várias cidades se devem a conjunturas locais, ele não interferiu para evitar os rompimentos. Ele não tem bem definido se pleiteia uma candidatura à Presidência em 2014, mas já tenta se fortalecer para pleitos futuros”, avalia um parlamentar do PSB.

Independentemente de um eventual voo solo daqui a dois anos, a legenda tenta, nestas eleições, ganhar autonomia em relação ao PT, legenda da qual sempre foi satélite. A posição ambígua de Campos, que, apesar de compor a base da presidente, flerta com a oposição, é usada como instrumento de barganha do partido nas alianças e na disputa por espaço no poder.

Para Cortez, um elemento no jogo eleitoral pode atrapalhar as estratégias políticas desses caciques partidários: o eleitor. “As eleições municipais são laboratório de estratégia nacional. É natural que os partidos se organizem para 2014. Mas o eleitor só está olhando 2012. Então, a resposta, talvez, não corresponda às expectativas”, diz o analista política.

De olho em 2014…
Quais são as expectativas dos caciques partidários no pleito deste ano

Lula
» Ganhar em São Paulo, reduto tucano, como chance também 
de o PT chegar ao Palácio dos Bandeirantes em 2014
» Enfraquecer a oposição nas capitais
» Manter seu prestígio político
» Manter o arco de aliados do PT

Dilma Rousseff
» Conquistar São Paulo, reduto tucano
» Garantir vitória petista e de aliados nas capitais
» Evitar desgastes desnecessários em partidos da base, como 
em Porto Alegre, onde PDT, PT e PCdoB se enfrentam
» Enfraquecer potenciais adversários do PT em 2014, 
como Aécio Neves (PSDB)

Eduardo Campos
» Autonomia do PSB em relação PT
» Barganhar com oposição e base
» Avançar no projeto de fazer do PSB um partido grande, no 
comando de vários executivos
» Ganhar musculatura para uma eventual candidatura à Presidência, 
não necessariamente em 2014

Aécio Neves
» Fortalecer palanque em Minas, segundo colégio eleitoral do Brasil
» Ver Dilma derrotada em BH, estado e aposta pessoal dela
» Atrair o PSB para possível aliança em 2014
» Apresentar-se para eleitores Brasil afora como opositor ao PT


Fonte: Correio Braziliense 

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