Apostas eleitorais de Lula, Dilma, Aécio e Eduardo Campos terão reflexo direto
na distribuição de forças na disputa pelo Planalto
Amanda Almeida
Mais que definir o comando de 5,5 mil municípios, as eleições deste domingo
servem de ensaio para os principais players políticos do país. De um lado, o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e sua sucessora, Dilma Rousseff, apostam todas as
fichas em avançar sobre os grandes redutos da oposição, São Paulo e Minas,
minando o prestígio dos adversários na próxima disputa presidencial. Também de
olho em 2014, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) faz força para garantir palanque
em seu ninho político e arregimentar apoios Brasil afora. Já o governador
Eduardo Campos (PSB-PE) busca independência do PT e musculatura para bancar
projetos futuros. À margem de tudo isso, o eleitor e suas reivindicações
imediatas.
Com a expectativa de manter o PT no Palácio do Planalto, Lula quer garantir
palanque nos grandes colégios eleitorais em 2014. A aposta do ex-mandatário é
vencer em São Paulo, que não é governada por petistas há oito anos e se tornou
um reduto dos tucanos. Lula bancou a candidatura do ex-ministro Fernando
Haddad, justificando-o como nome desconhecido e não assimilado ao PT, o que o
credenciaria para superar a rejeição do eleitorado paulistano ao partido. “O
risco dessa estratégia é o eleitor não ter tido tempo para conhecer Haddad e
apostar no candidato”, avalia Rafael Cortez, doutor em ciência política pela
Universidade de São Paulo (USP) e analista da Tendências Consultoria Integrada.
Se Lula adotou São Paulo, Dilma fez de Belo Horizonte sua prioridade. Mais que
retomar a prefeitura comandada pelo PT por 16 anos, a vitória na capital
mineira seria uma conquista política sobre um dos potenciais rivais em 2014.
Vencer em BH afastaria Aécio de seu principal palanque, além de fazer o tucano
amargar a derrota de uma eleição que tinha tudo para ser ganha. Dilma se
mobilizou: ajudou na escolha do nome do ex-ministro Patrus Ananias (PT),
garantiu o PMDB na chapa, gravou para a TV e fez na cidade um de seus dois
únicos comícios neste pleito. O risco é de, afastado há anos da prefeitura e
vendo o PT ser ligado ao mensalão, Patrus sair derrotado no primeiro turno pelo
prefeito e candidato à reeleição Marcio Lacerda.
Na avaliação de Cortez, a disputa em São Paulo, abraçada por Lula, é também uma
prioridade para Dilma e os dois, independentemente dos projetos pessoais, estão
alinhados no projeto de estender a permanência do PT no poder. “O Lula tem um
perfil partidário. É um homem político. A presidente tem um perfil diferente,
além de um cargo que a limita na campanha. Mas eles estão caminhando juntos.”
Adversários
De forma planejada ou não, a disputa em BH, além de aposta pessoal, acabou se
tornando palanque para Aécio se posicionar para o eleitor como opositor ao
governo federal. Nos últimos dias, o senador tem aproveitado eventos de
campanha para disparar críticas à presidente. Reclamou de falta de recursos
para obras federais no estado e chamou Dilma de “estrangeira”, em referência ao
fato de ela ter construído carreira política no Rio Grande do Sul.
Com o rompimento entre os petistas e o PSB, Aécio viu a oportunidade de flertar
com o partido do prefeito Marcio Lacerda e tentar atraí-lo como apoiador em
2014. Outra estratégia do tucano neste pleito é se tornar mais conhecido em
outros estados. “Com o PT na disputa em BH, ele não fez tantas viagens como
gostaria, mas rodou bem. Aécio ainda precisa se apresentar em outras regiões do
Brasil”, diz um correligionário.
Incógnita
As pretensões do governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo
Campos, ainda são dúvidas entre os próprios colegas de partido. “Ao mesmo tempo
em que o racha com o PT em várias cidades se devem a conjunturas locais, ele
não interferiu para evitar os rompimentos. Ele não tem bem definido se pleiteia
uma candidatura à Presidência em 2014, mas já tenta se fortalecer para pleitos
futuros”, avalia um parlamentar do PSB.
Independentemente de um eventual voo solo daqui a dois anos, a legenda tenta,
nestas eleições, ganhar autonomia em relação ao PT, legenda da qual sempre foi
satélite. A posição ambígua de Campos, que, apesar de compor a base da
presidente, flerta com a oposição, é usada como instrumento de barganha do
partido nas alianças e na disputa por espaço no poder.
Para Cortez, um elemento no jogo eleitoral pode atrapalhar as estratégias
políticas desses caciques partidários: o eleitor. “As eleições municipais são
laboratório de estratégia nacional. É natural que os partidos se organizem para
2014. Mas o eleitor só está olhando 2012. Então, a resposta, talvez, não
corresponda às expectativas”, diz o analista política.
De olho em 2014…
Quais são as expectativas dos caciques partidários no pleito deste ano
Lula
» Ganhar em São Paulo, reduto tucano, como chance também
de o PT chegar ao Palácio dos Bandeirantes em 2014
» Enfraquecer a oposição nas capitais
» Manter seu prestígio político
» Manter o arco de aliados do PT
Dilma Rousseff
» Conquistar São Paulo, reduto tucano
» Garantir vitória petista e de aliados nas capitais
» Evitar desgastes desnecessários em partidos da base, como
em Porto Alegre, onde PDT, PT e PCdoB se enfrentam
» Enfraquecer potenciais adversários do PT em 2014,
como Aécio Neves (PSDB)
Eduardo Campos
» Autonomia do PSB em relação PT
» Barganhar com oposição e base
» Avançar no projeto de fazer do PSB um partido grande, no
comando de vários executivos
» Ganhar musculatura para uma eventual candidatura à Presidência,
não necessariamente em 2014
Aécio Neves
» Fortalecer palanque em Minas, segundo colégio eleitoral do Brasil
» Ver Dilma derrotada em BH, estado e aposta pessoal dela
» Atrair o PSB para possível aliança em 2014
» Apresentar-se para eleitores Brasil afora como opositor ao PT
Fonte: Correio Braziliense
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