Eleição da Capital agravou as divergências
internas do PT e inaugurou o rompimento político entre petistas e socialistas
Ayrton Maciel
Três meses depois de
iniciado o período de propaganda eleitoral, conforme o calendário do TSE, os
eleitores do Recife vão às urnas, hoje, data do primeiro turno, para eleger o
novo prefeito da Capital ou os dois mais votados que irão ao segundo turno no
dia 27 deste mês. Os candidatos chegam ao pleito após uma campanha inusitada, marcada
pelo racha pré-eleitoral do PT – que levou ao expurgo do prefeito João da Costa
da disputa – e pelo rompimento entre os dois maiores partidos da Frente
Popular, que governa a cidade desde 2000: o PSB do governador Eduardo Campos e
o PT do senador Humberto Costa.
Eleição também
atípica porque um técnico aparece como favorito, Geraldo Julio (PSB), ungido
pelo governador – para suceder um prefeito de perfil técnico com gestão mal
avaliada –, e um deputado jovem, mas pouco conhecido, Daniel Coelho (PSDB),
ascende ao segundo lugar nas pesquisas, superando um ex-ministro de Lula,
ex-secretário de Eduardo, senador e histórico petista. Daniel foi a grande
surpresa. Enfrentando as máquinas da PCR e do Estado e uma campanha de
descrédito, conseguiu tomar de Mendonça Filho (DEM) o perfil de oposição real.
O democrata ocupou, por um tempo, o segundo lugar, mas sucumbiu à falta de
aliados, de recursos e de máquina pública e ao peso das máquinas municipal,
estadual e federal rodando a favor do PSB e do PT.
Eleição inusitada
também pela judicialização. Nunca antes em eleição municipal do Recife
assistiu-se coligações recorrerem tanto à Justiça Eleitoral contra propagandas
adversárias. De 1º julho – data das primeiras ações por propaganda antecipada –
até sexta-feira (05), 234 representações ingressaram na Comissão da Propaganda.
As duas principais pedem a impugnação de Geraldo Julio, acusado pelo PT de
fazer campanha “casada” com propaganda institucional do governo do Estado. O
juiz do Registro, João Maurício Guedes Alcoforado, cunhado do presidente do
PSB, Sileno Guedes, não renunciou e acabou tendo o pedido de “suspeição” feito
pelo PT. As ações ainda não foram julgadas.
O fator de maior
impacto foi o surpreendente lançamento da candidatura própria do PSB, atendendo
apelo do PTB e 13 outras legendas da Frente Popular, insatisfeitas com o
desempenho administrativo do prefeito petista João da Costa e a sua
interminável disputa interna com o ex-padrinho político, ex-prefeito e agora
arqui-inimigo João Paulo (PT). Disputa pela Prefeitura que foi assumida por
Humberto Costa, cujo grupo chegou a ser o suporte de João da Costa.
Inviabilizado pela
avaliação popular, a direção nacional do PT descartou do baralho político o
prefeito e acatou inicialmente o então deputado federal Maurício Rands – do
grupo de Humberto e também da cota de Eduardo - como alternativa a João da
Costa em uma prévia, que o próprio Rands acusou de fraudada após a derrota. A
ruptura do PSB ocorreu quando o PT já havia escolhido Humberto, faltando só a
reunião nacional que sacramentaria o “fora João da Costa”. Depois de repetidas
afirmações de que o PSB apoiaria o nome que o PT indicasse, o lançamento de
Geraldo Julio por Eduardo Campos deflagrou o rompimento da parceria iniciada em
2000, com a eleição de João Paulo, e consolidada nacionalmente, em 2002, com a
eleição de Lula à Presidência. O resultado foi um mal-estar e o distanciamento
entre Eduardo e Lula, embora negado pelo PSB.
Fragilizado, Humberto
Costa fez uma campanha sem identidade – nem foi oposição à gestão, nem defendeu
o governo João da Costa –, perdeu tempo com respostas ao desafeto e teve o
prefeito atuando, nos bastidores e comunidades, contra a sua candidatura. Em
meio à troca de fogo entre ex-aliados, o PRTB lançou Esteves Jacinto, impugnado
pelo TRE por não quitar multa pela ausência no pleito de 2010. Deixou a
impressão que cumpriu um papel de “laranja”, focando as baterias em Geraldo
Julio, que também derrubou no TRE as três multas recebidas dos juízes por
propaganda em bens públicos.
Fonte: Jornal do Commercio
(PE)
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