A sequência de indicadores negativos da economia – do PIB de 0,6% no primeiro trimestre e de forte queda das projeções do anual; dos déficits acumulados da balança comercial; da acentuação das quedas do Ibovespa e da disparada do dólar, com a ameaça de novo combustível inflacionário; e de mais rebaixamento do Brasil no índice mundial de competitividade, além do impacto da criação da Aliança do Pacífico como contraponto competitivo ao isolamento terceiro-mundista do Mercosul – essa bateria de más notícias antecipou para o início do segundo trimestre previsões de diversos analistas de efeitos semelhantes, porém bem mais demorados, lá pelo final de 2013 ou começo de 2014, da insistência do governo Dilma Rousseff nos estímulos ao consumo e na negligência com a inflação. O choque da presidente diante de tais efeitos, precipitados, está levando-a a admitir uma alteração significativa de prioridades, destinada a colocar o investimento como motor da expansão econômica. Que precisaria ser retomada rapidamente (para preservação do nível de emprego e de sua popularidade) sobretudo por meio da atração de investidores privados, internos e externos, para grandes projetos de infraestrutura. Atração a ser desencadeada com a troca do forte dirigismo estatal, tentado até agora nessa área pela promessa de respeito a regras de mercado. Uma troca certamente positiva, embora sem contar com garantia de sucesso, seja pela pressa com que os projetos são refeitos e relançados, seja pelo baixo nível de gerenciamento da máquina federal.
Outra antecipação ocorrida, esta de natureza especificamente política – que colide também, como os sérios problemas da economia, com o objetivo central do governo que é a reeleição da presidente – está sendo o desencadeamento da montagem dos palanques para as eleições estaduais. A colisão reflete basicamente as contradições de interesses e articulações regionais entre o PT e o PMDB, bem como as reações, por parte dos dirigentes deste e dos demais partidos aliados do Planalto, aos planos petistas (apoiados na máquina federal, que dominam) da conquista de mais governos dos estados e de maioria nas duas casas do Congresso. Tal colisão foi desatada pela precipitação da disputa pela presidência com o lança-mento da campanha reeleitoral. E estimulada por dois fatores: as distorções do relacionamento da chefe do governo com o Legislativo (autoritarismo, abuso de MPs...) e a irrupção dos problemas na economia, que coloca já a incerteza sobre seus desdobramentos, abrindo espaço para a incerteza também quanto aos resultados da referida disputa.
A rejeição pelo governador Sérgio Cabral de um palanque dilmista duplo no estado do Rio (composto pelo seu candidato, o vice Luiz Pezão, e o petista Lindbergh Farias), advertindo que isso a liberará para apoiar outro postulante à presidência, aparece como o principal conflito entre os dois maiores partidos da aliança governista. Conflitos semelhantes configuram-se no Mato Grosso do Sul, Ceará, Maranhão, Rio Grande do Sul, na Bahia. Nesta, o líder peemedebista local, Geddel Vieira Lima, acaba de pôr em dúvida a formalização do apoio nacional de seu partido à candidatura de Dilma. E, já sendo praticamente certa a dissidência do PSB em torno do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, cabe registrar encontro realizado ontem em Belo Horizonte. No qual os diretórios mineiros de cinco partidos da base governista federal – PP, PDT, PTB, PR e PSD, juntando-se aos do PSDB, do DEM e do PPS – decidiram manifestar apoio à campanha presidencial de Aécio Neves e à de seu candidato ao governo do estado.
Jarbas de Holanda, jornalista
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