O ministro Guido Mantega está convencido de que o Brasil tem, no comércio exterior, problemas pontuais. "É a conta petróleo que representa a maior do déficit deste ano," disse ele. Segundo ele, a decisão de suspender as barreiras ao dólar para aplicação em renda fixa foi tomada a partir da constatação de que começa a mudar o cenário monetário internacional.
O cenário em que foram instaladas travas sucessivas à entrada de dólar no país foi o do começo de 2011, quando em três meses entraram US$ 36 bilhões, derrubando o dólar e tirando a competitividade da economia brasileira. Os juros estavam mais altos, acima de 11%, e havia maior liquidez internacional.
- A economia americana está começando a mudar. Não está tão bem quanto dizem, porque o ISM (pesquisa com os gerentes de compras das empresas) deu abaixo de 50 pontos (o que representa, em geral, queda da produção industrial), mas o Fed começou a dar sinais de reduzir o ritmo dos estímulos monetários. O mercado antecipa e começa a tomar suas decisões de alocação de recursos prevendo um desmonte da liquidez. É por isso que o Brasil tem que se preparar para um ambiente em que não haverá enxurradas de dólares para países emergentes - explicou o ministro.
Primeiro, foi retirado o IOF sobre renda variável, depois, sobre empréstimos internacionais feitos por empresas e bancos. O IOF só não era cobrado para quem tomasse crédito acima de 5 anos, agora, empréstimos a partir de 360 dias já não pagam:
- Mas não tem empresa nem banco querendo pegar dinheiro curto, a tendência é crédito mais longo mesmo.
Na terça-feira, o ministro anunciou que a terceira trava ao câmbio foi retirada: a que pesava nas aplicações de renda fixa. Normalmente, esse dinheiro é identificado com o capital especulativo, mas o ministro alega que o interesse de fazer "a arbitragem" de juros é menor porque as taxas brasileiras caíram, em relação há dois anos, quando as barreiras ao câmbio foram instaladas. De fato, caíram, mas agora nós estamos no meio de um ciclo de alta de juros. Mantega nega que a retirada do IOF seja uma forma de atrair capital especulativo para cobrir o déficit em transações correntes:
- O déficit vai ser de 2,8% a 3% do PIB. É um número financiável. O mercado está favorável ao Brasil. O BB Seguridade acabou de captar US$ 3 bilhões, a Petrobras, US$ 11 bilhões. E eu acho que daqui para a frente haverá mais interesse em investimentos no Brasil com as novas rodadas de petróleo, principalmente a do pré-sal, que é num campo muito promissor.
Para Mantega, o déficit comercial do petróleo tende a cair de agora em diante porque a Petrobras aumentará a produção com as novas plataformas entrando em operação e até com as novas refinarias:
- A Bacia de Campos caiu muito a produção, chegando a 70%, mas a tendência é aumentar agora com a entrada de 14 novas plataformas.
Ele confia que, ao fim das paradas técnicas em várias plataformas e a entrada das novas, a produção sairá dos atuais 1,9 milhões de barris/dia para 2,2 milhões. E o Brasil importará menos.
Argumentei que grande parte desse rombo do petróleo foi causado pelo subsídio concedido pelo governo ao uso da gasolina através do controle de preços. Ele disse que isso também está mudando:
- Os preços foram elevados aqui, e lá fora o preço do petróleo está caindo, e isso esta diminuindo o diferencial de preços.
Apesar das dificuldades no balanço de pagamento e da alta da inflação, ele sustenta que a tirada do IOF não é para tentar segurar a alta do dólar.
- A tendência é deixar o câmbio flutuar ao máximo. Por isso o BC tem feito muito menos intervenção no mercado. Ele atua quando é para evitar a volatilidade que tira a previsão da economia - disse Mantega.
Fonte: O Globo
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