Em reunião antes de se filiar ao PSB, ex-senadora acusou PT de táticas semelhantes à do líder venezuelano
Chamada de "plano C", aliança com Campos foi articulada pelo deputado paulista Márcio França (PSB)
Ranier Bragon, Natuza Nery e Dimmi Amora
BRASÍLIA - Na longa reunião em que comunicou a seus aliados a disposição de ingressar no PSB, Marina Silva centrou críticas no PT e no governo, dizendo haver risco de instalação no país do estilo político do presidente venezuelano Hugo Chávez, morto em março, acusado por seus críticos de perseguição contra a oposição e a imprensa.
No encontro ocorrido em sua casa, e que só terminou por volta das 5h de ontem, Marina disse que sua Rede Sustentabilidade foi vítima de "chavismo", pela tentativa de aprovação no Congresso de projeto que sufocava as novas legendas e pelo alto índice de rejeição de assinaturas de apoio ao partido em cartórios como o do ABC Paulista, reduto do PT.
"O aparelhamento do Estado e das instituições pelo PT é insuportável. O caso da Venezuela é um populismo autoritário com inspiração militarista, aqui esse fenômeno é mais sofisticado", disse o vereador paulistano Ricardo Young (PPS), um dos presentes à reunião.
Questionada em coletiva de imprensa sobre o uso da expressão, Marina afirmou que "houve um esforço para inviabilizar" o seu partido.
"Há, no país, uma tentativa, de forma casuística, de eliminar uma força política que legitimamente tem o direito de se constituir como um partido político. Vejo um risco de aviltamento da nossa democracia".
No encontro com os aliados, Marina disse ainda que o PT comemorava ter "abatido ainda na pista" o "avião" da Rede. Essa reunião foi realizada logo após o encontro em que ela selou o acordo com o governador Eduardo Campos (PSB-PE).
Plano C
"Você inventou isso. Agora, venha para cá urgentemente cuidar disso", avisou, entre tenso e feliz, Campos ao deputado federal Márcio França (PSB-SP) na madrugada da última sexta-feira.
O paulista foi o idealizador da articulação que culminou na filiação de Marina.
França travou as negociações com o deputado Walter Feldman, que deixou o PSDB e ontem também se filiou ao PSB, e que é um dos principais operadores de Marina.
"Acreditávamos que a candidatura do Eduardo só aconteceria mais para frente, e seria necessário sangue frio para esperar. Com a filiação, vai se antecipar muito e ele só ganha com isso", disse França.
Marina apresentou outra versão para a gênese do acordo, dizendo que ela teve a ideia de procurar Campos na reunião com os aliados logo após a sessão do Tribunal Superior Eleitoral que rejeitou a criação da Rede, na quinta.
Segundo ela, como todos falavam em plano A (a criação da Rede) e em plano B (sair candidata a presidente por outro partido), ela começou a bolar o "plano C" --"plano Eduardo Campos".
"Ninguém teria coragem de propor a uma candidata com 26% das intenções de voto que ela desistisse de sua candidatura à Presidência para apoiar um outro candidato. Essa é uma iniciativa que só ela teria a capacidade de colocar na mesa", afirmou o deputado Alfredo Sirkis (RJ), que também ingressou no PSB.
Fonte: Folha de S. Paulo
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