Ex-senadora diz que Rede se alia ao PSB para 'sepultar de vez a Velha República’
Paulo Celso Pereira e Luiza Damé
BRASÍLIA — Ao lado do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, Marina Silva e aliados anunciaram, na tarde deste sábado, a filiação de integrantes da Rede Sustentabilidade ao PSB. Marina deixou claro o apoio à candidatura de Campos à Presidência da República, mas não confirmou se vai compor a chapa na condição de vice. Quando perguntada se apoiava o nome do governador, ela respondeu com outra indagação:
— Você tem alguma dúvida em relação a isso? - disse ela, que depois afirmou:
— Não sou uma militante do PSB, sou militante da Rede Sustentabilidade, e a Rede ainda não fez essa discussão de se vai ter vice ou não vai ter vice. O PSB já fez sua discussão e tem um candidato.
Antes de responder a perguntas da imprensa, Marina discursou e agradeceu a oportunidade dada por Campos para a filiação de integrantes da Rede. Ela disse que o seu partido é a primeira legenda clandestina desde a redemocratização. Marina reiterou a tese de que a rejeição do registro de sua legenda não foi uma derrota. E afirmou que a História julgará se o ato será uma vitória ou uma derrota. Marina disse ainda que a aliança entre Rede e PSB vai “sepultar de vez a Velha República”.
— Nós somos o primeiro partido clandestino criado em plena democracia. Quero agradecer ao PSB por ter dado chancela política e moral — disse ela, em evento no Hotel Nacional, em Brasília.
Marina disse ainda que não aguentava mais falar em plano B. E tratou sobre a rejeição do registro do partido:
— A vitória ou a derrota só são medidos na História. Apressa-se quem acha que uma derrota se dá numa canetada. Se não é possível um novo caminho, há que se aprender uma nova maneira de caminhar — discursou, sendo aplaudida em seguida.
Logo depois do discurso de Marina falou Eduardo Campos. Discursando como candidato à Presidência, ele afirmou ser de uma família de perseguido político e disse que a política atual abandonou o povo, num ataque indireto ao governo do PT.
— Os brasileiros querem um Brasil melhor, mais limpo, querem derrotar a velha política. Esse país quer respeito e decência na vida pública. A política abandonou o povo, a vida das pessoas. Falta na política brasileira o sonho de transformar esse país... Nossa inquietação com o que virou a vida pública nos conduziu até aqui — disse ele.
— É um ato de reforma da política brasileira. Momento que nós fizemos o que não deixavam a gente fazer. Esse dia será lembrado daqui a 20, 30, 40 anos. Só quem não pensa de forma convencional poderia enxergar (a união entre Eduardo e Marina).
O governador de Pernambuco tentou relacionar os movimentos de rua de junho à parceria com a Rede e criticou as "velhas lideranças" da política.
— Quem entendeu o que as ruas, em alto e bom som, ou às vezes sem som nenhum mas com muitos cartazes e esperança, disse ao Brasil e ao mundo, não tem nenhuma dificuldade de entender o que ocorre aqui hoje.
Campos lembrou que, a despeito de questionamentos sobre suas atitudes, ofereceu sua assinatura para contribuir para a formação da Rede como um novo partido. Segundo ele, a Rede é "necessária para melhorar a política no Brasil".
— A Rede existe porque existe um pensamento organizado que ela expressa. Existe militância nas redes sociais, nas ruas, nas fábricas, nas escolas, uma sinergia que a Rede representa. A Rede existe no coração do nosso povo, na expressão de seu prestígio. Aqueles que pensavam que o pensamento do tribunal ia matar a Rede viu hoje a Rede se agigantar.
Campos exaltou o discurso da ex-senadora e falou que a aliança entre ambos é contra o embate entre PT e PSDB.
— Nós hoje estamos quebrando uma falsa polarização na política brasileira.
Antes do discurso de Marina, Cássio Martinho, um dos articuladores da Rede, leu uma manifestação conjunta do PSB e de seu grupo político. O texto lança uma "coligação" político-eleitoral programática, ou seja, uma parceria em torno de projetos e princípios, mas não envolvendo cargos.
O texto deixa claro, ainda, que se tratava de um "ato de filiação democrática e transitória". De acordo com o documento, a Rede e o PSB estão unindo forças para apresentar alternativa ao Brasil que supere "os vários vícios e o atraso da política brasileira".
A imagem de Eduardo Campos de braços erguidos com Marina Silva, na criação da "coligação democrática", no ato político de filiação da ex-senadora, vai estrelar o programa nacional do PSB que irá ao ar em cadeia de rádio e TV na próxima quinta-feira. O evento grandioso, preparado de um dia para o outro, está sendo gravado nesse momento para ser incluído no programa semestral do partido.
Estavam presentes no evento Beto Albuquerque, líder do PSB na Câmara, o senador Rodrigo Rollenberg e outros integrantes, como a ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina. Entre aqueles não filiados ao PSB estavam os deputados Miro Teixeira (PROS-RJ) e Reguffe (PDT-DF).
Erundina, uma das pessoas mais festejadas no evento, chegou depois de o ato já ter sido iniciado. Durante o evento, além da adesão de Marina, ingressaram no PSB três de seus apoiadores: os deputados Walter Feldman (SP) e Alfredo Sirkis (RJ), além do articulador Pedro Ivo de Souza.
O quadro sucessório de 2014 sofre uma reviravolta nas últimas horas. Segundo interlocutores de Marina, ela aceitou ser candidata a vice-presidente da República em 2014. A ex-senadora ainda propôs ao PPS de Roberto Freire a formação de uma frente que incluiria seu partido, quando ele vier a ser oficialmente criado, mas Freire rechaçou a proposta.
Fonte: O Globo
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