A melhor causa perde a razão na face obtusa da violência
Itamar Santos é um brasileiro simples e trabalhador como a maioria do povo brasileiro. Serralheiro, evangélico, mora em São Paulo. Itamar não frequenta estádios nem liga muito para futebol. Itamar tinha um fusca velho. Era para ir à igreja, passear e carregar seus ferros velhos. Itamar não é dirigente da Fifa, não é ministro nem está muito interessado na Copa do Mundo no Brasil.
Sábado, dia 25 de janeiro, como sempre faz, Itamar foi ao culto em sua igreja. Na volta, com o espírito solidário típico dos brasileiros, deu carona a amigos, um senhor e duas senhoras. Uma delas levava a filhinha de cinco anos.
Itamar já estava acostumado com o trajeto e com o drama paulistano da mobilidade urbana. Nesse dia, no entanto, algo diferente estava acontecendo. A polícia desviava o trânsito. E, ao fundo, Itamar viu uns meninos com rostos cobertos, vestidos de preto, que colocavam fogo em colchões fazendo a avenida arder em chamas. Os meninos decidiram que não querem a Copa no Brasil. E resolveram se manifestar de um jeito que o serralheiro evangélico achou estranho. Ele não queria saber da Copa nem dos meninos encapuzados. Só queria voltar para casa, levar os amigos e descansar da semana de trabalho. No domingo, iria passear no seu velho fusquinha.
Assustado, foi para o canto da avenida para evitar confusão. Só queria passar e voltar para casa. Os valentes meninos mascarados vestidos de preto não gostaram da ousadia de Itamar. Sem mais nem menos, tocaram fogo no carro.
Os momentos seguintes foram de verdadeiro terror. A criança chorava nos braços da mãe desesperada. Acharam que não daria tempo de sair, já que o fusca só tem porta na frente. Uma desgraça quase aconteceu. Felizmente, todos se salvaram. Itamar e seu amigo tiveram queimaduras leves. O fusca virou uma carcaça imprestável. Itamar não tinha seguro, claro. Não tem dinheiro para comprar um novo carro. Ainda teve que pagar o guincho para remover o fusca da avenida. Vai ter que trabalhar duro para comprar de novo um carrinho para passear, ir à igreja e carregar seus ferros velhos. Seis agências bancárias, duas concessionárias e uma loja do McDonald’s foram destruídas nessa noite.
Lembro que, nas jornadas pela anistia, pelas Diretas e pelo afastamento de Collor, íamos para as ruas cheios de energia, sonhos e disposição de luta. Não quebrávamos lojas e muito menos incendiávamos carros de trabalhadores pobres. Conquistamos nossos objetivos e a democracia se instalou no Brasil.
Quem tem convicções e ideais não esconde o rosto. Atos covardes, autoritários e reacionários como esse não vão fazer o país melhor. Tirem as máscaras, meninos, disputem democraticamente suas posições, conquistem as pessoas.
A melhor causa perde a razão na face obtusa da violência. Deixem seu Itamar, seu fusquinha e seus amigos viverem em paz. A democracia é um patrimônio de todos, não a agridam.
Marcus Pestana, deputado federal e presidente do PSDB de Minas Gerais
Fonte: O Tempo (MG)
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