Aprovação de compra de refinaria e risco de racionamento de energia elétrica abrem brechas para oposição atacar imagem da presidente
Eduardo Bresciani, Isadora Peron, Pedro Venceslau e Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo
As crises envolvendo a Petrobrás e o setor elétrico do País colocam na berlinda a imagem de boa gestora que a presidente Dilma Rousseff explora desde a época em que ocupava o ministério de seu padrinho político e antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva. As duas áreas estão diretamente ligadas à sua passagem pelo governo federal como titular da pasta de Minas e Energia e da Casa Civil.
Seus opositores na corrida presidencial acreditam, agora, que terão uma forte arma contra a vantagem da petista nas pesquisas de intenção de voto - se a eleição fosse hoje, ela venceria Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) no primeiro turno.
Na semana passada, o senador tucano foi o que mais tirou proveito político da crise na Petrobrás. Em uma prévia do que pretende levar à campanha sobre o tema, discursou na tribuna do Senado e cobrou a responsabilidade de Dilma. "Desde que assumiu a Presidência a atual presidente, o prejuízo, a perda de valor de mercado, somadas Petrobrás e Eletrobras, chega a cerca de US$ 100 bilhões. Essa é a gestão eficiente, é a condução dada por alguém que conhece dos assuntos?"
Conforme revelou o Estado na quarta-feira passada, Dilma apoiou em 2006, quando era ministra da Casa Civil e comandava o Conselho de Administração da Petrobrás, a compra de 50% de uma polêmica refinaria em Pasadena, nos EUA. O valor total do negócio ultrapassou US$ 1 bilhão, apesar de, poucos anos antes, a mesma refinaria ter sido comprada por uma empresa belga por US$ 42,5 milhões.
Ao tentar justificar sua decisão em nota oficial enviada ao jornal, a presidente disse que se baseou num parecer "falho" e "incompleto". Ressaltou ainda que, se soubesse das cláusulas que obrigariam a estatal a comprar os 100% da refinaria anos depois, nunca teria apoiado o negócio.
Executivos da Petrobrás e até o ex-presidente da estatal Sérgio Gabrielli questionaram a presidente num ponto que tem tudo a ver com a capacidade de gestão: disseram que as cláusulas que Dilma afirmava desconhecer são comuns em contratos do gênero.
"Esse caso é demolidor. Ela (Dilma) é um personagem criada pelo marketing do PT. A história de boa gestora é uma ficção. Ela ultrapassou seu nível de competência e mostrou toda a sua mediocridade", afirmou o líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Antonio Imbassahy (BA).
Pelo Twitter, o governador de Pernambuco, Eduardo campos, pré-candidato do PSB, disse: "Não é à toa que a Petrobrás vive, hoje, a maior crise desde sua fundação." Parceira de Campos no projeto presidencial, a ex-ministra Marina Silva também explorou o caso: "É inacreditável que (Dilma) tenha tomado uma decisão com base em informações incompletas e use isso para justificar o prejuízo", disse na sexta-feira.
"Esse caso da Petrobrás tem de ser visto também dentro de um contexto do fracasso da política energética e a deixa ainda mais vulnerável, porque ela construiu essa imagem de gestora nessa área e deveria entender mais", disse o líder do PSB no Senado, Rodrigo Rollemberg (DF).
Aposta. Numa decisão política com grande repercussão social, Dilma antecipou em 2012 a renovação dos contratos das concessionárias de energia de 2015. Foi à TV anunciar a redução das tarifas de energia elétrica. Mas o Executivo não contava com a forte estiagem que assolou o País em seguida. Isso reduziu o potencial de geração das usinas hidrelétricas, a principal fonte energética brasileira. A escassez das chuvas obrigou o governo a aumentar o uso das usinas térmicas, cujo custo de geração de energia é mais alto. A conta ficou alta para o Tesouro e deve ser repassada ao consumidor, mas só em 2015, após as eleições de outubro.
Mesmo que o racionamento de energia não venha a ocorrer como no governo Fernando Henrique Cardoso, entre 2001 e 2002, Campos acredita que a instabilidade de um sistema diretamente controlado por Dilma quando ela foi ministra de Minas e Energia, de 2003 a 2005, tem potencial para causar estragos à petista.
"Não faltou chuva ou vento. Faltou planejamento", afirma o líder do PSB na Câmara, deputado Beto Albuquerque (RS).
Na segunda-feira passada, Campos criticou Dilma ao falar sobre o risco de desabastecimento de energia. No mesmo evento, Marina classificou a crise no setor como "vexame". Dias depois, voltou ao tema: "É preciso um ministro que entenda de energia no Ministério de Minas e Energia", disse ela, em referência ao peemedebista Edison Lobão, que assumiu a pasta por indicação política.
A ex-ministra também acusou o governo de não assumir as responsabilidades e de querer achar um "bode ou uma cabra expiratória" para o problema. O comentário foi uma resposta à senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), que disse esta semana que as dificuldades enfrentadas pela setor se devem em parte à postura que Marina teve quando era ministra do Meio Ambiente de Lula.
Blindagem. Os tucanos reconhecem que os apagões enfrentados por FHC foram decisivos para a derrota de José Serra na eleição presidencial de 2002. "O que aconteceu em 2001 agravou o quadro político e eleitoral para o PSDB e possibilitou a vitória do Lula. Mas aquele apagão foi enfrentado com a construção de termelétricas", diz o ex-governador paulista Alberto Goldman, vice-presidente nacional do PSDB.
Os tucanos consideram que hoje estão blindados de críticas sobre o período. Aécio incorporou o setor elétrico em seu discurso ainda em 2012, logo depois de a presidente anunciar que reduziria as tarifas de energia. Depois dos apagões na região nordeste ocorridos esse ano, o senador reforçou a artilharia e deixou claro que esse será um mote de campanha. Aécio acusa Dilma de ter descapitalizado as empresas de energia com a redução das tarifas. O argumento é que a presidente teria deixado as empresas do setor sem capacidade de investimento. Ele diz que os apagões "do governo do PT", somados, "certamente são maiores do que o que tivemos lá atrás".
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