• Lançamento de candidato do partido estraga relação com Aécio e mina apoio da Rede
Júnia Gama – O Globo
BRASÍLIA - A intervenção de Eduardo Campos no diretório do PSB mineiro para imposição de candidatura própria acabou desagradando a gregos e troianos e pode se converter em dissidência generalizada no estado, o segundo maior colégio eleitoral do país. Se de um lado a candidatura própria minou sua relação com o tucano Aécio Neves — com quem havia feito um acordo de que um não lançaria candidatos ao governo no reduto eleitoral do outro —, de outro acabou ficando sem contrapartida da ampliação do apoio à sua candidatura tanto na Rede Sustentabilidade de Marina Silva, quanto em seu próprio partido.
O comando da campanha de Campos tenta minimizar a crise, mas a maior parte dos integrantes do PSB mineiro, com o prefeito de Belo Horizonte, Márcio Lacerda, à frente, ainda tenta reverter a situação, com a retirada da candidatura própria, até o último minuto – que se esgota em 5 de julho, prazo final para registro de candidaturas. Caso isso não seja possível, o grupo tende a permanecer ao lado de Aécio Neves, que vem mantendo contato frequente com a turma dos dissidentes.
Se Campos esperava atender a Rede de Marina Silva com a decisão, sua expectativa também será frustrada. O porta-voz da Rede em Minas, Apolo Heringer — que teve sua candidatura preterida pelo pernambucano — avisou que “a maioria esmagadora” da Rede no estado ficou insatisfeita com a solução e que o grupo não irá apoiar o PSB nas eleições majoritárias, ou seja, para a Presidência da República e para o governo.
— É muito diferente atender a Marina de atender a Rede em Minas. Ficamos muito prejudicados com esse acordo, que foi apenas no plano nacional, negligenciando o papel político dos estados. Há uma desunião total. O Eduardo não inspira mais confiança para ser a terceira força para mudar o Brasil. Eles vão tentar o voto pela TV, mas não terão palanque forte em Minas — sentencia Apolo.
Irritado com os movimentos de Eduardo Campos, Aécio comentou com interlocutores que a atuação do socialista em Minas está se assemelhando à formação de uma "quinta coluna do PT", pois está fragmentando a aliança entre os dois partidos de oposição ao PT no estado. O tucano relatou a pessoas próximas que tentou conversar com Eduardo Campos antes da ruptura em Minas para ponderar sobre os efeitos colaterais negativos daquele passo, mas que o pernambucano sequer o atendeu.
Em uma demonstração de fidelidade a Aécio Neves, Márcio Lacerda telefonou para o presidente do PSDB na segunda-feira, para contar sobre a nota que publicaria em desaprovação à decisão do diretório nacional do PSB de lançar Tarcísio Delgado ao governo. Mais uma vez, o prefeito de Belo Horizonte assegurou apoio ao tucano não somente de sua parte, mas de um número expressivo de prefeitos e deputados mineiros do PSB.
Enquanto alguns socialistas sinalizam que irão permanecer ao lado de Aécio, outros estão simplesmente optando por não participarem da disputa eleitoral. É o caso de Alexandre Kalil, presidente do Atlético mineiro, um dos nomes que era considerado um possível puxador de votos para o PSB. Kalil desistiu de apresentar sua candidatura a deputado pelo partido após a escolha de Tarcísio Delgado e disse que não irá fazer campanha para Eduardo Campos. Questionado sobre quem irá apoiar nesta eleição, diz que estará com Antônio Anastasia e que Aécio já tem pelo menos 50% de votos em Minas.
– O Eduardo morreu em Minas, abraçou um anão. Ele largou quem tem voto, que é o Márcio Lacerda, para ficar com os nanicos. Não vai ter nem 2% de votos em Minas sem o Lacerda. Não vou mais apresentar candidatura, só o imperador Júlio Delgado que vai. Eu estou fora! — esbravejou Kalil.
Integrantes do comando da campanha de Eduardo, no entanto, minimizam o cenário em Minas. Avaliam que os chamados "dissidentes" são os mesmos que já apoiavam Aécio e que não havia expectativa de que isso se revertesse. Para a cúpula do PSB, a dissidência era prevista e a decisão de candidatura própria é irreversível, pois levou em conta uma necessidade política, e não o tamanho do apoio que Campos terá no estado.
– O Márcio Lacerda e os prefeitos que estão com ele nunca apoiaram o Eduardo Campos, sempre fizeram campanha para o Aécio. Então, não tem nenhuma mudança, não há perdas. A Rede infelizmente nunca apresentou uma solução passível de ser aprovada pelo partido em Minas. A campanha vai contar com quem quiser apoiar — afirmou um interlocutor de Campos.
O presidente do PSB mineiro – e filho do candidato do partido ao governo do estado – deputado Júlio Delgado, também tenta minimizar a crise. Diz que a escolha de Tarcísio é irreversível por parte do PSB, mas deixa uma porta aberta, afirmando que a candidatura de Tarcísio só será retirada se ele desistir. O deputado afirma que a situação com a Rede em Minas não é tão grave e que as insatisfações estariam concentradas na figura de Apolo Heringer, até porque ele foi preterido.
Quanto ao PSB, diz que é normal essa dissidência e que todos já sabiam que Márcio Lacerda tinha votado pela aliança com o PSDB. Agora, Delgado trabalha para garantir que o prefeito de Belo Horizonte ajude a eleger deputados do PSB e que ao menos não faça uma campanha ostensiva contra Tarcísio Delgado e Eduardo Campos. Ele não conversa com Lacerda desde quinta-feira, quando a decisão do PSB foi tomada. Somente no dia 05 de julho será possível ter a dimensão exata da debandada de candidaturas.
– Vamos ver o que vai acontecer até sexta-feira. A decisão do PSB ter candidatura própria ao governo de Minas é irreversível, não vai ter outra reunião para deliberar sobre isso, a não ser que haja desistência de Tarcísio. Em qualquer momento, inclusive durante a campanha, um candidato pode ser substituído, mas a decisão do partido está tomada —disse.
Nenhum comentário:
Postar um comentário