- O Globo
A candidatura de Paulo Skaf a governador de São Paulo corre o risco de perder a singularidade de representar uma terceira via entre PT e PSDB. Não vimos, por enquanto, o próprio candidato assumir a ligação que o PT está querendo forçar, e para que mantenha o viço que o levou a ter 20% da preferência do eleitorado ele terá que esclarecer essa questão o mais rápido possível.
Tudo indica que a melhor postura para ele é a de se manter na oposição aos dois partidos hegemônicos, apresentando-se como uma novidade na política paulista. A pior coisa que poderia acontecer a Skaf seria ficar marcado como um candidato do grupo petista, que quer acolhê-lo na certeza de que a candidatura de Alexandre Padilha não caiu no gosto do eleitorado paulista.
Lula disse a Fernando Henrique que escolheu Padilha por que ele tem “um ar de tucano”, assim como Haddad também tinha e foi eleito prefeito da capital. Acontece que, provavelmente devido ao insucesso do petista na prefeitura, o candidato do PT ao governo do estado está sendo rejeitado pelo eleitorado oposicionista, que busca em Skaf uma alternativa ao governador Geraldo Alckmin.
O presidente da Fiesp dizia até bem pouco tempo atrás que não queria saber de maiores contatos com o PT e muito menos com a presidente Dilma. Tudo indica que esse movimento do PT a seu favor, reforçando sua aliança com a adesão de última hora do PP de Maluf, obedece mais a uma estratégia de salvamento de última hora do que uma aliança política que possa ser vendida como tal ao eleitorado.
A “cristianização” antecipada de Alexandre Padilha fala mais da tática do desespero que está tomando conta do PT em São Paulo do que de outra coisa qualquer. Até mesmo a frase que o ainda candidato petista ao governo de São Paulo proferiu ontem, em uma constrangedora entrevista coletiva, revela esse desespero: “Faço política desde muito pequeno. Durante sete anos, fui da coordenação política do governo Lula, lidando diariamente com o Congresso Nacional. Então, digo que nada me surpreende na política”.
Ao se referir à relação do governo Lula com o Congresso como uma atividade em que se viu de tudo, como a traição de última hora do PP de Maluf, o ex-ministro Padilha está dando o troco possível a quem o deixou pelo caminho sem dó nem piedade: o próprio ex-presidente Lula, que está por trás das manobras para desinflar sua candidatura e apostar no candidato que parece ter mais fôlego, o peemedebista Skaf.
Para mostrar o quanto está perdido na sua estratégia de campanha, Padilha procurou se mostrar como a única novidade da campanha: “Nesta eleição, houve três composições de força. A que está no comando do estado há 20 anos; outra, dos ex-governadores, que comandaram o estado nos 20 anos anteriores, e a nossa coligação, que representa a mudança”.
Acontece que a composição que governou o estado nos 20 anos anteriores aos governos tucanos foi justamente a que até pouco tempo atrás estava com o PT de Padilha, que não se vexou de aparecer em fotos com Paulo Maluf quando esse parecia apoiá-lo.
Desta vez, nem Lula aceitou posar para a foto, como fez para alavancar Fernando Haddad, e também Skaf recebeu o apoio sem precisar passar por esse vexame político.
Se não reagir publicamente à tentativa do PT de transformá-lo em seu plano B, Skaf pode vir a sofrer o mesmo desgaste do candidato à Presidência da República do PSB, Eduardo Campos, que tentou se equilibrar entre ser a terceira via em alternativa a PT e PSDB e poupar o ex-presidente Lula de suas críticas, que atingem principalmente a presidente Dilma.
Além disso, não há nada que demonstre que o eleitor de Paulo Skaf se identifique com o PT ou com a presidente Dilma Rousseff. Resta saber onde se meteu o eleitor do PT em São Paulo.
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