• Candidata do PT criticou sua principal adversária, Marina Silva, e disse que denúncias sobre Petrobras não afetam a ela nem a pessoas de confiança
O Globo
RIO — A presidente Dilma Rousseff (PT), que fechou nesta sexta-feira a série de sabatinas do GLOBO com os presidenciáveis, criticou sua principal adversária, Marina Silva (PSB), e se defendeu das denúncias de desvio de recursos da Petrobras. Ao falar sobre as alianças partidárias costuradas em seu governo, afirmou que "em todos os partidos tem gente corrupta e gente que não é corrupta". E defendeu que a democracia "não pode prescindir de partidos":
- Eu não acho que a democracia possa prescindir de partidos. Toda vez que isso aconteceu, nós caímos na mais negra ditadura. Ou tem alguém muito poderoso por trás disso - declarou. - Em todos os partidos, tem gente corrupta e gente que não é corrupta. Tem partidos que tem compromissos históricos. O meu partido, o PT, tem uma história de luta, de militâncias. O PMDB é um partido que lutou pela redemocratização. Eu sou da época em que ia-se para a cadeia.
Em referência à candidata do PSB, Dilma disse que quem "chega no governo e acha que não tem que negociar, está no mau caminho".
- No governo, você tem que fazer suas coisas: uma coisa é propor e a outra é negociar. Se você acha que chega no governo e não tem que negociar, você tá no mau caminho. Para ser presidente, tem que ter coluna vertebral. Errar, você erra 24 horas por dia - disse Dilma, quando perguntada sobre arrependimentos em seu mandato, em que apontou a falta de especialistas na área da Saúde e ausência de uma reforma no Ensino Médio.
Petrobras
Durante a sabatina, a candidata comentou as denúncias de corrupção na Petrobras e disse que pediu a descontinuidade do ex-diretor Paulo Roberto Costa, investigado por operar um esquema de desvio de recursos da estatal, porque "não tinha afinidade com ele".
- Há corrupção em todas as empresas públicas ou privadas. A Petrobras tem órgãos internos e externos de controle. Mas quem descobriu foi a Polícia Federal. Se eu tivesse sabido qualquer coisa sobre o Paulo Roberto, ele seria demitido e investigado. Eu tirei o Paulo Roberto com 1 ano e 4 meses de governo. Eu não sabia o que ele estava fazendo. Eu tirei, porque não tinha afinidade nenhuma com ele.
Sobre as investigações, a candidata afirmou que não afetará nem ela nem pessoas de sua confiança. Segundo a petista, "não é fácil de achar" as irregularidades que envolvem o ex-diretor da estatal.
- Isso não afeta nem a mim nem pessoas que têm a minha consideração. Tudo o que emergir dessa investigação, eu tenho certeza que será algo que transformará o Brasil em um país que pune e que investiga. A corrupção tem um compadre, um amigo, um protetor: a impunidade. Essa história que aumentou a corrupção é que quando você não investiga, não aparece - disse Dilma - Isso que aconteceu na Petrobras, não é facil de achar, não é fácil de investigar. Eles estão investigando há mais de um ano.
A colunista Míriam Leitão questionou Dilma sobre um parecer técnico emitido pela Petrobras, publicado pelo GLOBO, que dizia que, se a construção da refinaria Abreu e Lima fosse superior a R$10 bilhões, não deveria ser feita.
- A diretoria na Petrobras tem autonomia para o dia a dia dela. São eles que decidem o que tem que continuar ou não. Na época, achamos que precisava fazer - argumentou - Eu não tenho condição de avaliar tecnicamente. Não sei de cabeça quais foram as justificativas da empresa para continuar a fazer a refinaria. O Brasil tem que ter refinaria, porque temos que ser exportadores de petróleo. Se eu produzo petróleo bruto e não refino, eu condeno o Brasil a virar uma commoditie.
Banco Central
A candidata do PT comparou a independência do Banco Central à instituição de um "quarto poder", que ela chamou de questionável. "Poder tem que ser eleito pelo povo", alegou Dilma:
- O quarto poder, que é o poder da independência do Banco Central, é algo extremamente questionável. Uma coisa é autonomia operacional. Outra coisa é independência do Banco Central - Independência é de poder. O banco central não é um poder. O Banco Central é uma instituição. Poder tem que ser eleito pelo povo, como o Legislativo ou o Executivo. Ou como o Judiciário, que tem um mandato durante a vida. Um presidente do Banco Central poder sair e servir um banco, ir para uma instituição de crédito lá fora.
Dilma negou ter defendido, em 2010, a independência do Banco Central. Ela explica que era a favor da "autonomia" da instituiçao, que ela disse ter mantido ao longo de seu mandato.
- Independência do Banco Central é o que está sendo proposto.Autonomia não precisa de lei nenhuma. Eu acredito que o Banco Central teve autonomia. Como teve autonomia no governo Fernando Henrique Cardoso, sabe por quê? Quantos presidentes do Banco Central o Fernando Henrique demitiu? Dois. Isso é autonomia relativa. Eu sou a favor da autonomia do Banco Central e pratico. Porque nos Estados Unidos, pra ser independente sabe qual é o mandato? Máximo emprego. Estabilidade de preço. Juros moderados de longo prazo. Esse é o mandato.
Ataques a adversários
Dilma justificou a intensa onda de ataques à candidata Marina Silva, dizendo que todas as suas críticas são baseadas em programas de governo ou programas partidários em rádio ou TV.
- Tudo sobre Aécio e Marina que nós discutimos é sobre o que eles fizeram ou falaram. É muito perigosa a vitimização. Não estamos atacando pessoalmente, até porque a Marina é bem intencionada. Eu disse que ela estava sendo financiada por banqueiros, eu falo em cima de fatos. Disse sobre o que vocês (imprensa) estão divulgando. Se são inverdades, eu não tenho nada a ver com isso.
A petista, que critica Marina por "ter recebido doação de dinheiro de banqueiros", explicou que as contribuições que recebeu de bancos foram para o seu partido e não em seu nome.
- Eu recebi para a minha campanha. Minha campanha é uma campanha institucional. Ninguém nunca se aproximou de mim para dizer "agora eu quero que você faça isso". A Marina disse que eu tinha pago uma bolsa banqueiro. Eu disse: eu não só não paguei bolsa banqueiro como também não recebi.
Comissão da verdade
Uma das perguntas foi sobre a cooperação das Forças Armadas com as investigações da Comissão da Veradade. Dilma foi questionada se tomaria alguma atitudo em relação a isso, na posição de presidente.
- Vamos aguardar o relatório da Comissão da Verdade'. Sem isso, nós ficamos na especulação. Se a comissão revelar atitudes negativas, nós vamos ver o que fazer - declarou Dilma - Houve um grande passo que foi criar a Comissão da VerdadeFoi um grande avanço. Vou tomar todas as medidas cabíveis para resolver sobre o que faltou e o que não faltou. Esse vai ser um momento excepcional do desvendamento da verdade.
Reforma política
Ao falar de reforma política, a presidente voltou a defender uma consulta popular. Após as manifestações em junho do ano passado, ela tentou aprovar um plebiscito para a realização da reforma política.
- Não estamos conformados com essa diferença que existe entre o Brasil e seu sistema político. Incluímos milhões de pessoas, o país mudou, mas do ponto de vista do seu sistema político, ele ficou atrasado. Eu não acredito que nós faremos uma reforma política como aquela, mandando simplesmente um projeto para o Congresso. Eu acredito que o único jeito de ter sustentação é fazer uma consulta popular. Só a consulta popular dá legitimidade e força para aquilo que a população resolver. Mandar para o Congresso e dizer que são os bons que vão fazer é muita ingenuidade.
Religião
Dilma falou sobre sua opção religiosa. Ela disse que "o Estado é laico, o Estado não tem religião e não deve ter", mas contou que segue a religião católica desde que estudou em um colégio de freira, em Minas.
- Fui aluna de um colégio de freiras e comecei a fazer política com o Grupo Gente Nova. Depois, em Porto Alegre, eu tive uma relação mais ou menos desse tipo com um grupo religioso. Eu sou uma pessoa que acredita nos princípios da religião católica. Eu acredito em todos que creem, porque a religião tem uma base ética entre as pessoas. Isso, para mim é um valor. Eu acho que tem um sentido também humano fundamental - afirmou - O Estado é laico, o Estado não tem religião, não deve ter. E é inconstitucional transformar qualquer religião em religião do estado.
A candidata aproveitou para elogiar o Papa Francisco.
- Eu considero que o Papa Francisco vai dar uma contribuição a muitas coisas no mundo. Ele prega e faz isso. Ele é um dos fatores de maior valorização na Igreja católica nos últimos 100 anos. Respeito muçulmano, respeito evangélico, respeito todas as religiões, mas tenho imensa admiração pelo Papa Francisco.
LGBT
Após a polêmica envolvendo a mudança do programa de governo da rival, Marina Silva, Dilma disse ter compromisso com a criminalização da homofobia.
- Tenho integral compromisso com a criminalização da homofobia. O projeto [que tramitava no Congresso, que criminalizava a homofobia] não tem só o artigo de criminalização de homofobia, tem outros artigos. Nem todos os artigos do projeto o governo é favorável.
De acordo com a candidata, a união civil de homossexuais é uma questão "solucionada", mas o Estado não tem como impor a aprovação do casamento gay porque isso seria assunto das religiões.
- O Supremo aprovou o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, e reconheceu os direitos das relações estáveis. O que eu acho é que o Estado não tem condições de impor o casamento religioso. Mas o Estado, como é laico, tem dever de reconhecer todos os direitos do casamento entre um homem e mulher tem para as pessoas do mesmo sexo. Essa é uma questão solucionada. A discussão central é a questão a respeito da homofobia. É absolutamente necessário, assim como foi necessário criminalizar a violência contra o negro e contra a mulher.
Economia
Na área da economia, Dilma respondeu sobre a saída do ministro da Fazenda, Guido Mantega, caso ela seja reeleita.
- Eu tenho grande respeito pelo trabalho do Guido Mantega. Ele está passando por uma fase difícil da vida pessoal dele. Me comunicou que em função disso não pretende seguir no próximo mandato.
Perguntada sobre a estagnação econômica, a candidata do PT usou o argumento de que a crise internacional abalou a criação de empregos no mundo o que não aconteceu no Brasil, segundo argumentou.
- Nós tivemos uma política nesse momento defensiva. Uma política defensiva é de proteção do país para enfrentar a crise. Política defensiva em que você constrói o alicerce da retomada - explicou Dilma - É impossivel enfrentar a crise fazendo esse modelito. Paro de investir e não tem futuro. Não desempregamos, nós não cortamos salários - disse.
Dilma ressaltou que o relatório da OCDE apontou uma tendência de que haveria uma crise de empregos "que tem comprometido a demanda desses países".
- É muito difícil falar qual é o número que é a tendência. Eu acredito que o segundo semestre será muiro melhor que o primeiro semestre. Essas comparações pontuais são grandes armadilhas. O que está acontecendo no mundo todo e é reconhecido é que houve uma queda oferta. No caso dos EUA atribuíram a um inverno muito tenso. No segundo trimestre, houve queda de vários países. Pela primeira vez, na Alemanha, houve uma grande queda. Não é uma questão de produtividade , porque se tem indústria tecnológica é a Alemanha - afirmou - o G20 tem 100 milhões de desempregados. Nós estamos enfrentando uma crise que não é só nossa. É uma crise que começa no centro do mundo.
Dilma se defendeu, afirmando que não reduziu salários e investiu em infraestrutura.
- Alguns reagiram cortando drasticamente os salários. Nós não fizemos assim. Nós reagimos garantindo aumento salarial. Nós reagimos garantindo investimento na infraestrutura do país.
Segurança
Sobre o tema da Segurança, a candidata afirmou que a situação do Brasil piorou. E criticou a fragmentação da atuação na área, que cabe aos estados.
- Eu acho que de fato a situação no Brasil em relação à Segurança piorou. O crime organizado age de forma coordenada em todo o território nacional . E os estados agem de forma fragmentada. A União tem que também se tornar responsável pela segurança pública, que hoje é atribuição dos estados. Sempre houve um lavar as mãos.
A candidata elogiou o sistema de segurança adotado durante a Copa do Mundo, em que as forças de segurança atuaram de forma integrada.
- Na Copa, não podiíamos deixar uma quebra na segurança pública. Então o que fizemos? Centros de comando e controle. Nesses centros, conseguimos um grau de integração extremamente elevado. Por isso, estamos querendo mudar a Constituição e fazer centros de comando e controle nos 26 estados, além de tratar as fronteiras dos estados como fronteiras reais.
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