- Folha de S. Paulo
O Brasil tem eleições a cada dois anos e nunca falha: basta começar a propaganda em rádio e TV para que se forme um senso comum contra o horário eleitoral.
Muitos defendem acabar com os comerciais eleitorais neste período. Acho um erro pensar assim. Até porque o problema desse sistema é mais o conteúdo e menos o modelo.
É claro que os comercias dos candidatos, em geral, são um lixo. Informam sobre quase nada. Os políticos se atacam mutuamente. Quem disputa a reeleição mostra na TV um mundo onírico. O céu é mais azul e os pobres estão sempre felizes.
Mas acabar com o horário eleitoral não resolveria o problema. Numa democracia, os políticos têm de se comunicar com seus eleitores.
Abrem-se então duas possibilidades. Manter o horário sendo pago com dinheiro público (as emissoras hoje são compensadas em grande parte pelo espaço cedido) ou criar um sistema no qual o candidato comprar seu tempo no rádio ou na TV.
Nos EUA, os políticos pagam para ir à TV. É mais caro para a sociedade. O abuso do poder econômico impera.
No Brasil, o tempo é dividido por meio de uma fórmula com base no tamanho da bancada de cada partido na Câmara. Aí está a anomalia na qual prosperam os políticos do aerotrem. Basta um deputado para ir à TV e ter seus candidatos convidados obrigatoriamente para debates. É um desserviço à democracia.
O horário eleitoral é bom na sua concepção, pois democratiza o acesso à TV. Só fica ruim porque trata desiguais como iguais e não estimula o debate. Nanicos teriam de ter uma exposição de fato mínima. Os principais candidatos teriam de debater ao vivo, de maneira regular.
Seria educativo assistir a confrontos apenas entre Dilma Rousseff e Marina Silva (e, vá lá, Aécio Neves), sem a intromissão dos sem voto. É curioso, embora compreensível, que ninguém ouse defender essa proposta em nenhuma campanha.
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