• Lucia Hippolito e Maria Celina D’Araujo concordam que Marina foi a única a canalizar a insatisfação de junho de 2013. Por isso, leva essa ‘surra da propaganda petista’
- O Globo
Mais de dois anos depois que a síndrome Guillain-Barré provocou a paralisia de seus músculos, permitindo que mexesse apenas os olhos e a cabeça, a cientista política, historiadora e jornalista Lucia Hippolito fez sua rentrée anteontem na Casa do Saber, “feliz que nem pinto no lixo” por ter recobrado a fala e quase todos os movimentos (ainda usa a cadeira de rodas para se locomover) e por aquele encontro em que, junto com a colega Maria Celina D’Araújo, discorreu sobre a campanha eleitoral. Não faltou o bom humor que a acompanhou inclusive nos 47 dias durante os quais esteve imobilizada em uma cama de hospital em Paris.
Por várias vezes, a plateia gargalhou. Sem a retórica e a hipocrisia dos discursos de campanha, as duas ofereceram um espetáculo onde, com franqueza e muita graça, desmistificaram os lugares-comuns e as ideias feitas com que os candidatos procuram angariar votos. Se a propaganda usasse na TV os mesmos recursos, a política obteria mais Ibope.
O formato foi o de uma conversa, na qual convergiram mais do que achavam que iriam divergir, a começar pela “perplexidade” diante de um quadro ainda indefinido e que pode mudar a cada dia. Em matéria de adivinhação, elas, como cientistas políticas, preferiam ficar “em cima do muro”, até porque há o acaso ou, como disse Celina sem medo de ser politicamente incorreta, “tem os aviões que caem”. Só para ser mais irreverente nas suas análises é que Lucia confessou brincando ser também jornalista. A sério, ressaltou a semelhança dos três principais candidatos, que teriam um mesmo “núcleo duro” de propostas: crescimento econômico, inflação sob controle e necessidade de programas sociais. Constatou também que há uma “fadiga do eleitorado com o PT”, provocando risos ao dizer que “quem precisa de gerente é supermercado”.
As duas concordam que Marina foi a única a canalizar a insatisfação da jornada de junho de 2013. Por isso, leva essa “surra da propaganda petista”. Mas Lucia acha que a candidata do PSB não é amadora: “O ar de Madre Teresa de Calcutá não tem nada a ver com ela.” O problema seriam as contradições que carrega e o “romantismo” de acreditar que pode governar sem os partidos — sem o PMDB, por exemplo.
Fizeram então uma análise da real importância da “noiva mais cortejada, um partido que, quando perde, a primeira coisa que faz é aderir”. Quanto ao mau desempenho de Aécio nas pesquisas, atribuíram-no ao que todo mundo já percebeu: ele só passou a fazer oposição agora. Nas duas horas em que dialogaram entre si e com o público, Lucia e Maria Celina falaram muito mais do que cabe aqui e, apesar das críticas ao governo, não manifestaram visão maniqueísta ou catastrófica.
Ao contrário, são otimistas, acreditam que o país avançou nos últimos 20 anos.
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